Autoridades de Cabo Verde asseguraram hoje haver “rigorosos padrões” de higiene e segurança alimentar em estabelecimentos turísticos, refutando testemunhos e alegações de que quase mil visitantes britânicos terão contraído infeções gastrointestinais no país.
Numa notícia publicada desde domingo por vários portais na Internet, uma firma de advocacia britânica indica que quase mil turistas do Reino Unido adoeceram após viagens a Cabo Verde, nos últimos três anos (incluindo em 2024) e que estão a processar operadores turísticos após alegadamente contraírem infeções como Shigella e Salmonella.
“A notícia veiculada não corresponde à realidade dos factos apurados pelas autoridades cabo-verdianas”, lê-se num comunicado, que classifica o país como “um destino turístico de referência, onde a segurança alimentar e a proteção da saúde dos visitantes são prioridades absolutas”.
O comunicado conjunto foi subscrito pela Inspeção-Geral das Atividades Económicas, pela Entidade Reguladora Independente da Saúde, pelo Instituto Nacional de Saúde Pública e pelo Instituto do Turismo de Cabo Verde.
Embora existam “relatos internacionais sobre casos de Shigella entre turistas que visitaram a ilha do Sal, nenhuma prova foi encontrada que associe esses casos diretamente às condições de Cabo Verde”, país que “se rege por rigorosos padrões internacionais de higiene e segurança alimentar, com auditorias regulares por entidades independentes”, disseram as autoridades.
O comunicado detalha que, em dezembro de 2022, duas investigações independentes foram realizadas, após rumores de um possível aumento de casos de diarreia, na ilha do Sal, principal destino turístico do arquipélago.
Nenhuma das investigações “confirmou um surto ou um aumento anormal de casos que justificassem preocupação”, acrescentou.
Em março de 2023, houve nova investigação, conduzida por uma equipa multidisciplinar que realizou 84 análises laboratoriais a responsáveis pela manipulação de alimentos nos hotéis e noutros estabelecimentos turísticos “e os resultados foram todos negativos para Salmonella e Shigella”.
“Adicionalmente, mais de 2.000 cartões de sanidade foram atualizados ou emitidos pela Delegacia de Saúde do Sal, garantindo que os manipuladores de alimentos cumpriam todas as normas sanitárias”, lê-se no mesmo documento.
O comunicado refere que os resultados das investigações “não revelaram qualquer evidência de um surto de Shigella nos hotéis de Santa Maria [ilha do Sal] durante o período de setembro de 2022 a março de 2023”.
“Qualquer alegação de intoxicação alimentar deve ser analisada com base em provas concretas e devidamente apuradas, o que não foi o caso, até ao momento”, acrescenta a declaração conjunta.
As autoridades admitem que, “como em qualquer destino turístico, a possibilidade de ocorrência de doenças gastrointestinais existe, mas, em Cabo Verde, essa probabilidade é minimizada” graças a um “sistema de controlo rigoroso e ao compromisso com as boas práticas”.
O artigo sobre o processo judicial iniciado pela firma de advocacia britânica Irwin Mitchell, com testemunhos de vários turistas, foi replicado por diversos meios na Internet, incluindo no arquipélago, e divulgado nas redes sociais.
"Os números envolvidos mostram que não são incidentes isolados. O facto de uma quantidade significativa [de pessoas] ainda estar a vir até nós com relatos semelhantes aponta para um quadro preocupante de doença em curso que não dá sinais de acabar”, referiu o advogado Jatinder Paul, na página da firma.
O escritório tem conduzido processos semelhantes sobre outros destinos e tem publicado uma lista anual onde indica os piores sítios para passar férias, com base nas queixas que recebe.
O setor turístico é o motor da economia cabo-verdiana, que em 2023 bateu o recorde de um milhão de hóspedes e que ambiciona superar 1,2 milhões este ano.
O Reino Unido mantém-se como o principal mercado, responsável por cerca de um terço dos visitantes.