A cólera já infetou cerca de 13.000 sudaneses e matou pelo menos 388 nos últimos dois meses, disseram hoje as autoridades sanitárias desta nação, que está em guerra desde abril de 2023.
A cólera está a propagar-se nas áreas devastadas pelas fortes chuvas e inundações recentes, especialmente no leste do Sudão, onde milhões de pessoas deslocadas de guerra se abrigam.
Entre as vítimas da cólera contam-se seis mortos e cerca de 400 doentes durante o fim de semana, de acordo com o relatório de domingo do Ministério da Saúde.
A doença foi detetada em dez das 18 províncias do país, sendo as províncias orientais de Kassala e al-Qadarif as mais afetadas, segundo o ministério.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a cólera é uma infeção altamente contagiosa que se desenvolve rapidamente e provoca diarreia, levando a uma desidratação grave e à possível morte em poucas horas se não for tratada. É transmitida através da ingestão de alimentos ou água contaminados.
A cólera não é invulgar no Sudão, onde um surto em 2017 matou pelo menos 700 pessoas e deixou cerca de 22.000 doentes em menos de dois meses.
O Sudão mergulhou no caos em abril do ano passado, quando as tensões latentes entre os militares e um poderoso grupo paramilitar, as Forças de Apoio Rápido, explodiram numa guerra aberta em todo o país.
Os combates, que destruíram a capital, Cartum, e outras áreas urbanas, foram marcados por atrocidades, incluindo violações em massa e assassinatos por motivos étnicos, que constituem crimes de guerra e crimes contra a humanidade, especialmente na região ocidental de Darfur, de acordo com as Nações Unidas e grupos internacionais de direitos humanos.
Hoje, um bombardeamento atingiu o mercado de Sabrian no distrito de Karari, em Omdurman, matando pelo menos 13 pessoas e ferindo mais de 30 outras, disse Mohamed Ibrahim, porta-voz do Ministério da Saúde.
A guerra já matou pelo menos 20.000 pessoas e feriu dezenas de milhares de outras, segundo a ONU. No entanto, grupos de defesa dos direitos humanos e ativistas afirmam que o número de mortos é muito superior.
A guerra também criou a maior crise de deslocações do mundo.
Mais de 13 milhões de pessoas foram forçadas a fugir das suas casas desde o início dos combates, de acordo com a Organização Internacional para as Migrações. Entre elas, mais de 2,3 milhões fugiram para países vizinhos.
As inundações sazonais devastadoras e a cólera vieram agravar a miséria sudanesa.
Segundo o Ministério da Saúde, pelo menos 225 pessoas morreram e cerca de 900 ficaram feridas na sequência das inundações.
Mais de 76.000 casas foram destruídas ou danificadas, acrescentou o Governo.
A fome foi também confirmada em julho no campo de deslocados de Zamzam, situado a cerca de 15 quilómetros da capital do Darfur do Norte, Al-Fasher, de acordo com peritos mundiais do Comité de Avaliação da Fome.
Cerca de 25,6 milhões de pessoas - mais de metade da população do Sudão - enfrentarão fome aguda este ano, alertaram os peritos.
Entretanto, os combates prosseguem em Al-Fasher, a última grande cidade do Darfur ainda controlada pelos militares.