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Médio Oriente: CICV receia que drama em Gaza crie precedente perigoso noutros conflitos

Lusa
12-08-2024 14:00h

O Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV) afirmou hoje que as violações do direito internacional humanitário que estão a ocorrer em Gaza podem criar um precedente perigoso para outros conflitos.

"Estou muito preocupada com o que está a acontecer em Gaza e alarmada com o precedente que esta situação está a criar para outros conflitos. Estou muito preocupada com o destino da população civil em Gaza, com as condições insuportáveis em que têm de viver", afirmou a Presidente do CICV, Mirjana Spoljaric, numa conferência de imprensa.

Spoljaric, que falava na sessão evocativa dos 75 anos da entrada em vigor das Convenções de Genebra, conjunto de regras que se aplicam nos conflitos armados para proteger os civis e os prisioneiros de guerra, disse também lamentar o sofrimento das famílias dos reféns israelitas detidos pelo grupo islâmico Hamas, cujo destino é atualmente desconhecido.

"Apelamos a ambas as partes para que cheguem a um acordo que nos permita fazer mais pela população afetada, para que possam estar em segurança e recuperar alguma dignidade", afirmou a Spoljaric.

A presidente do CICV acrescentou que o que os seus funcionários estão a ver em Gaza, em guerra há dez meses contra Israel, "é a degradação constante da situação humanitária" e um grande "desespero" entre as organizações humanitárias devido ao acesso limitado que têm à população palestiniana afetada.

O CICV tem 130 pessoas, incluindo cirurgiões de guerra, em Gaza, onde, entre outras operações de socorro, mantém um hospital em colaboração com o Crescente Vermelho palestiniano, além de trabalhar constantemente na reparação das infraestruturas hídricas.

Israel tem criticado repetida e severamente o CICV pela sua alegada parcialidade a favor dos palestinianos.

A estas acusações, Spoljaric respondeu que as ações da organização são a melhor prova da sua neutralidade e imparcialidade, mas que é comum, num conflito, que uma parte que vê que o CICV não está do seu lado a considere erradamente como estando do lado do inimigo.

O presidente da organização humanitária garantiu que estão em curso negociações com o Hamas e as autoridades israelitas para que seja permitido o acesso aos detidos palestinianos e aos reféns israelitas e para verificar a sua situação.

A guerra entre Israel e o Hamas foi desencadeada por um ataque do movimento islamita palestiniano em solo israelita, a 07 de outubro, no qual morreram quase duas mil pessoas, na maioria civis, de acordo com uma contagem da agência de notícias France-Presse com base em dados oficiais israelitas.

No ataque, foram raptadas 251 pessoas raptadas, sendo que 111 continuam detidas em Gaza e 39 morreram, indicou o exército israelita.

A retaliação israelita na Faixa de Gaza causou quase 39.900 mortos, afirmou o Ministério da Saúde do Hamas, que controla o enclave palestiniano, que não avançou um número de civis e combatentes mortos.

Já a Cisjordânia ocupada está a viver a sua maior espiral de violência desde a Segunda Intifada (2000-05) e, até agora, em 2024, cerca de 300 palestinianos foram mortos por fogo israelita, na sua maioria milicianos ou atacantes, mas também civis, incluindo mais de 55 menores, de acordo com a contagem da EFE.

O ano passado foi o mais mortífero das últimas duas décadas, com mais de 520 mortos.

O exército israelita intensificou as suas incursões, agora frequentes, na Cisjordânia ocupada na sequência do ataque do Hamas de 07 de outubro de 2023 e, desde então, mais de 620 palestinianos foram mortos em incidentes violentos com Israel - incluindo pelo menos cerca de 150 menores - principalmente por militares e uma dúzia por colonos.

Do lado israelita, pelo menos 20 pessoas foram mortas este ano - 11 militares e nove civis, cinco dos quais colonos.

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