O Sindicato Independente dos Médicos (SIM) defendeu hoje que o Governo tem de acabar com a existência de “vários SNS” no país, em que "tudo funciona bem” no Norte enquanto a sul de Coimbra a situação é “praticamente trágica”.
“O Governo tem de resolver um problema que é a existência dos vários SNS. Não podemos ter no Norte tudo impecável, tudo a funcionar bem, e depois termos esta situação que eu considero praticamente trágica a sul de Coimbra, em que há grávidas a fazerem centenas de quilómetros por dia”, disse à agência Lusa o secretário-geral do SIM, Nuno Rodrigues, numa alusão às urgências de Obstetrícia e Ginecologia encerradas.
Segundo as Escalas de Urgência publicadas no Portal do SNS, às 12:30 de hoje estava previsto o fecho no sábado de sete urgências de Ginecologia e Obstetrícia, e de oito no domingo, a maioria na região de Lisboa e Vale do Tejo, e três de Pediatria.
Para o líder sindical, estes problemas de desigualdade de acesso ao Serviço Nacional de Saúde, que têm várias razões, têm de ser resolvidos.
Como razões para esta situação, apontou a “competitividade do setor privado” como uma das principais, uma vez que os principais grupos operam em Lisboa e Vale do Tejo.
“Esta dinâmica aliada à falta de médicos que estão nos serviços leva a que cada vez sejam melhores as condições de trabalho nos privados, com melhores condições remuneratórias, e no Serviço Nacional de saúde à medida que vão saindo colegas, obviamente, os serviços vão ficando desfalcados e vai havendo também menores condições de trabalho”, argumentou.
Relativamente à falta de médicos no SNS, Nuno Rodrigues afirmou que também se deve à reforma de muitos profissionais.
“É uma tendência de longo prazo que se está a concretizar, ou seja, há uma grande percentagem de médicos que têm mais de 60 anos e muitos até já têm mais de 65 anos, e é natural que, ano após ano, vão havendo mais reformas”, explicou.
Nuno Rodrigues disse ser “natural que a situação se agrave nos próximos anos” e que a solução para o problema passa por captar os recém-especialistas e os especialistas jovens que estão fora do Serviço Nacional de Saúde.
Para isso, defendeu ser preciso apresentar um plano de médio prazo, de pelo menos cinco anos, com condições fixas que garantam “alguma estabilidade” a nível de condições de trabalho e salariais aos jovens médicos.
“Nenhum médico quer ficar a fazer urgência com equipas extremamente reduzidas abaixo dos mínimos em que, obviamente, o risco de erro médico é extremamente superior”, disse, adiantando que os profissionais “estão a fugir destas condições de trabalho em que têm de fazer centenas de horas extra” em “condições inapropriadas”.
Adiantou que o SIM está a discutir agora com o Governo aumentos salariais e de progressão na carreira, mas defendeu serem necessárias também medidas de curto, médio ou longo prazo para os médicos ficar no SNS e muitos até regressar, “mas com condições estáveis para os próximos anos”.