O Presidente da República considerou hoje que foram criadas “expectativas muito altas” quanto ao plano de emergência do Governo para a saúde e disse esperar que os constrangimentos nas urgências deste ano “não se repitam” no próximo.
"Sendo certo que era um plano para dois anos, faseado ao longo de dois anos, criou expectativas muito altas quanto ao calendário fixado. E as pessoas, naturalmente, pensaram que esse plano de emergência poderia ser todo cumprido ao mesmo ritmo e ser cumprido não em dois anos, faseadamente, mas em poucas semanas ou em poucos meses, sobretudo calhando no período que é um período sempre complicado, como é o verão", salientou o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
O chefe de Estado falava aos jornalistas, ao lado do primeiro-ministro, Luís Montenegro, e da ministra da Saúde, Ana Paula Martins, que hoje visitaram o hospital Santa Maria, em Lisboa.
"Eu acho que todos criámos, eu criei, expectativas muito altas. Porque perante a gravidade dos problemas, ao falar-se de um plano de emergência, cada um de nós deseja que a resposta seja o mais rápido possível. Portanto, as expectativas foram expectativas criadas, muito altas, relativamente a uma situação em que, em muitos casos, não era possível corresponder às expectativas", sublinhou.
O chefe de Estado disse ver como um "caso de sucesso pleno" a resolução das listas de espera de cirurgia para doentes oncológicos que ultrapassaram o tempo máximo recomendado, uma das 54 medidas do plano de emergência para a saúde do Governo PSD/CDS-PP.
Para o Presidente da República, o que importa "é ir acompanhando agora as várias outras medidas para ver se é possível, e se é possível dentro de que prazos - e naturalmente que o Governo quererá que seja rápido, as circunstâncias podem permitir que seja mais rápido ou menos rápido - em que medida é que o calendário é cumprido, em algumas medidas ou noutras medidas".
Interrogado sobre a alegada recusa do hospital das Caldas da Rainha em atender uma grávida que tinha sofrido um aborto espontâneo, o chefe de Estado recusou comentar casos concretos e lembrou que estão a decorrer averiguações.
Marcelo Rebelo de Sousa considerou que é "uma exigência e um desafio" que as causas que levam "à capacidade de resposta das urgências mudem para melhor o mais rapidamente possível", salientando que alguns pacientes que recorrem a serviços de urgência "deviam ser tratados nos cuidados primários".
O chefe de Estado considerou que, nalguns casos, as urgências não têm "capacidade para corresponder igualmente por todo o país às necessidades dos portugueses".
"Ora, bom, tudo isso preocupa os portugueses, tudo isso preocupa o Governo, tudo isso preocupa as oposições, tudo isso preocupa o Presidente da República, no sentido de que é preciso encontrar soluções o mais rápido possível para que a situação não se verifique no ano que vem. E eu ouvi a senhora ministra [da Saúde] dizer que para o ano, espero bem, que aquilo que se vive este ano já não seja vivido. A senhora ministra espera e eu espero", afirmou.
Sobre o facto de ter sido convidado pelo primeiro-ministro para participar nesta visita, Marcelo Rebelo de Sousa salientou que “não é a primeira vez” que tal acontece e recordou que visitou com o anterior executivo obras do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).
O chefe de Estado recordou a reforma que o anterior primeiro-ministro, António Costa, quis implementar na saúde e que pretendia que o novo modelo de gestão entrasse em funcionamento em janeiro deste ano.
“Sucedeu que o Governo mudou”, realçou, lembrando que as eleições legislativas levaram a uma mudança de executivo.
“Quer dizer que este Verão calhou, coincidiu, independentemente de os verões serem mais ou menos complicados nisto ou naquilo, coincidiu com uma mudança de Governos e coincidiu com, portanto, inevitavelmente, a adoção de novas políticas, a adoção de novos métodos de gestão ou pelo menos a adaptação dos métodos de gestão que vinham ao passado”, salientou.
O chefe de Estado disse ainda esperar mais convites de Luís Montenegro para acompanhar a execução do plano de emergência.
“(…) Com a noção exata, isto sou eu a falar, de que há certas medidas e certos objetivos que são muito mais difíceis de cumprir do que outros”, alertou.