A organização Human Rights Watch (HRW) acusou hoje os rebeldes xiitas Huthis de dificultarem o acesso humanitário no Iémen, o que "agrava seriamente o surto de cólera em todo o país".
Em comunicado, a organização não-governamental (ONG) denunciou que os Huthis, o Governo iemenita e o Conselho de Transição do Sul "obstruíram a ajuda e o acesso à informação e não tomaram medidas preventivas adequadas para mitigar a propagação da cólera".
A HRW instou as autoridades iemenitas a "remover os obstáculos à prestação de ajuda".
"As obstruções ao trabalho de ajuda por parte das autoridades iemenitas, em particular dos Huthis, estão a contribuir para a propagação da cólera", afirmou Niku Jafarnia, investigador da ONG de defesa dos direitos humanos no Iémen.
Pelo menos 95.000 casos de cólera foram registados entre 01 de janeiro e 19 de julho, tendo o vírus matado 258 pessoas, segundo um funcionário da Organização Mundial da Saúde (OMS).
"As autoridades Huthis também detiveram pelo menos uma dúzia de funcionários da ONU e da sociedade civil desde 31 de maio", indicou a HRW na nota informativa, que apelou "ao fim destas detenções arbitrárias", que põem em causa a eficácia da ajuda humanitária.
O Governo também culpou inicialmente os migrantes do Corno de África pelo surto de cólera, "colocando os migrantes numa situação ainda mais precária no Iémen".
Os dados da organização de defesa dos direitos humanos mostram que, atualmente, "mais de 18 milhões dos 30 milhões de habitantes do Iémen necessitam de assistência humanitária", ou seja, mais de metade da população.
Os primeiros casos da epidemia de cólera começaram em novembro de 2023, mas as autoridades Huthis só reconheceram o surto em 18 de março, altura em que milhares de pessoas já estavam infetadas em toda a região, disse à HRW um médico que opera na área controlada pelos rebeldes.
O Iémen está mergulhado numa guerra desde 2014 que transformou o país num cenário de uma das piores catástrofes humanitárias do mundo, de acordo com as Nações Unidas.