O PCP acusou hoje PS, PSD e CDS de quererem “deixar cair a obstetrícia e ginecologia no SNS”, defendendo que o atual Governo está a manter as políticas do anterior e instando-o a apresentar “medidas concretas” para resolver a situação.
“Já há um pacto de regime entre o PS, PSD e CDS que é deixar cair a obstetrícia e a ginecologia no Serviço Nacional de Saúde (SNS). Foi isso que fizeram no Governo anterior, é isso que este Governo está a fazer”, acusou Bernardino Soares, membro do Comité Central do PCP, numa conferência de imprensa na sede nacional do partido, em Lisboa.
O dirigente comunista considerou que “a gravíssima situação dos blocos de partos e urgência de obstetrícia do SNS é um desastre há muito anunciado e, mais do que isso, uma consequência esperada e desejada da política de saúde do atual e do anterior Governo”.
Salientando que, este fim de semana, “a maioria das maternidades da região de Lisboa e Vale do Tejo estiveram encerradas”, além de as grávidas de Leiria terem sido remetidas para o Porto até dia 19, Bernardino Soares considerou que esta situação “muito grave” não tem qualquer resposta no programa de emergência para a saúde apresentado pelo Governo.
Nesse programa, “no fundamental, consta mais uma linha telefónica, mais incentivos para os profissionais que fizerem mais partos do que a média anterior - sem que se se saiba se e quando isso vai acontecer - e, claro, mais contratação de privados. De resto, a opção do Governo é assistir impavidamente à degradação das condições de atendimento”, acusou.
O dirigente do PCP defendeu que “a situação que se viveu este fim de semana, e que se prolongará, só tem solução de fundo com a melhoria das condições de remuneração e carreira dos profissionais de saúde”.
“O que se exige do Governo são medidas concretas, imediatas e urgentes que respondam a uma situação insustentável que coloca em risco a saúde e a vida das mulheres grávidas. O que se exige é que o primeiro-ministro e a ministra da Saúde divulguem ao país as medidas a adotar”, defendeu.
Bernardino Soares perguntou em particular ao Governo quando é que vai contratar “os recém-especialistas formados em abril, designadamente na especialidade de ginecologia e obstetrícia” e quantos profissionais de saúde pretende “contratar a curto prazo para os serviços de ginecologia e obstetrícia do SNS”.
“Precisamos de medidas concretas e não de declarações vazias”, frisou.
O dirigente comunista disse ainda que, no PS, há quem queira “sacudir a água do capote” sobre o que se está a passar no SNS, mas acrescentou que se pode dizer, “sem falsa ironia”, que “as críticas que PS faz ao PSD e que PSD faz ao PS são ambas verdadeiras porque eles são cúmplices na situação a que se chegou”.
Questionado como é que vê o apelo, feito pelo líder parlamentar do PSD, para uma convergência alargada entre os partidos para salvar o SNS, Bernardino Soares respondeu: “Mas o que é que é salvar o SNS para o PS e o PSD?”.
“O que me parece é que, para eles, o pacto é entregar mais partes do SNS ao setor privado. Para esse pacto, não contem com o PCP”, frisou, acrescentando que se quiserem “melhorar as remunerações base dos profissionais de saúde”, as condições de progressão na carreira e diminuir a carga horária, podem contar com o partido.
Interrogado sobre a alegada recusa do hospital das Caldas da Rainha em atender uma grávida que tinha sofrido um aborto espontâneo, Bernardino Soares pediu que seja rapidamente esclarecido, mas recusou comentar o caso em concreto, salientando que o importante é que a ministra da Saúde anuncie “as medidas para resolver a situação geral”.
“Porque estes casos só acontecem porque as urgências estão encerradas, porque os bombeiros andam a transportar grávidas por centenas de quilómetros sem saber onde as podem deixar para serem atendidas. Esse é que é o problema de fundo”, afirmou.