SAÚDE QUE SE VÊ

Associação defende novo estudo sobre idas às urgências para ajustar respostas

Lusa
28-12-2023 13:59h

A Associação Nacional das Unidades de Saúde Familiar (USF-AN) defende uma atualização do estudo sobre as idas às urgências, para perceber porque é que os utentes as procuram, lembrando que a última análise tem mais de 10 anos.

“Provavelmente daqui um ano vamos estar a discutir a mesma coisa (…). É o eterno problema das urgências”, disse à Lusa o vice-presidente da USF-AN, Bruno Moreno, quando questionado sobre o pico de procura dos serviços de urgência.

Depois de no passado fim de semana e no dia de Natal terem estado centenas de centros de saúde a funcionar com horário complementar precisamente para evitar idas desnecessárias às urgências, medida que vai repetir-se na passagem do ano, hoje de manhã os tempos médios de espera para doentes urgentes nos hospitais da região de Lisboa ultrapassavam em alguns casos as 18 horas.

“Tem que haver um estudo de fundo para se perceber porque é que o doente vai às urgências. Isto não implica que os cuidados primários não estejam dispostos a ajudar, estão e estaremos, mas não podemos às vezes fazer mais porque também não temos recursos”, disse Bruno Moreno quando questionado sobre se seria possível ter prolongado nos centros de saúde os horários complementares durante esta semana.

“Se não é no verão é no natal. Por acaso, agora, nesta circunstância, até estamos a falar também da greve às horas extraordinárias dos colegas hospitalares, que também não ajuda”, lembrou.

Sobre a falta de meios para os horários complementares nos centros de saúde, Bruno Moreno dá o exemplo do funcionamento no fim de semana do natal: “Dos cerca de 180 centros de saúde (…), 120 eram nas ARS [Administrações Regionais de Saúde] do Norte e Centro – 59 no Norte e 62 no Centro. Depois 24 em Lisboa e Vale do Tejo, 37 no Alentejo e nove no Algarve”.

“Portanto, o Alentejo tinha mais do que Lisboa e Vale do Tejo, que é a zona do país com mais falta de médicos de família. Eu percebo que Lisboa não consiga dar resposta e não consiga fazer esta abertura, mas estamos mais uma vez a espremer ao máximo toda a capacidade, sem haver uma verdadeira previsão de recursos e uma verdadeira previsão de necessidades”, afirmou.

O responsável sublinha que para que as medidas a aplicar sejam ajustadas e produzam efeitos é preciso caracterizar as idas às urgências: “Nós já propusemos um verdadeiro estudo que caracterize as idas à urgência, para perceber porque é que o utente vai, se é porque não tinha médico de família, ou porque foi ao centro de saúde e foi recusado o atendimento”, disse o responsável, lembrando: “o único estudo que temos é de 2012”.

Na altura, explicou, “muitos utentes diziam ir às urgências porque era onde faziam o exame na hora”.

“O problema não são as verdadeiras urgências. As verdadeiras urgências têm de ir à urgência. O problema são os outros”, reconheceu o especialista, sublinhando igualmente a necessidade de uma maior literacia em saúde e interação dos hospitais com os centros de saúde.

Lembrou ainda que em 2019 a USF-AN manifestou disponibilidade para discutir o problema das idas às urgências com os cuidados hospitalares e com a linha de saúde 24.

“A ideia era tentar reunir mais uma vez, pensar sobre isto. Mas não pode ser no dia 28 de dezembro. Isto tem que ser pensado em agosto ou em setembro. E tem que ser uma solução a longo prazo”, defendeu, frisando que seria importante evitar a “política do penso rápido”.

Recorda ainda que o estudo de 2012 sobre a ida às urgências concluía que só 54% dos casos eram urgentes ou muito urgentes, que o atendimento no serviço de urgência “é um valor culturalmente enraizado nas sociedades modernas”.

“Diziam mesmo que o aumento da acessibilidade nos cuidados saúde primários não parece diminuir a utilização inadequada do serviço de urgência, salvo quando acompanhado de outros mecanismos de barreira”, acrescentou.

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