SAÚDE QUE SE VÊ

Wall Street fecha em forte baixa com investidores permeáveis a notícias do Covid-19

LUSA
06-03-2020 19:42h

A angústia com a propagação do novo coronavírus tornou a afetar os investidores hoje, com Wall Street em forte baixa, o Brent abaixo dos 50 dólares e as taxas de juro em queda em queda acentuada nos EUA.

Os investidores “sabem gerir as más notícias, porque as podem quantificar”, observou Quincy Krosby, estratega na Prudential. Contudo, “gerir a incerteza é muito mais complicado”, preveniu.

Ora, além da epidemia do novo coronavírus, também é difícil antecipar a amplitude da sua difusão no mundo e as suas consequências económicas.

Por exemplo, quantos voos vão ser anulados em todo o mundo? Perante esta grande incógnita, as transportadoras aéreas foram hoje particularmente afetadas em Nova Iorque, com a United Airlines a afundar 13,25%, a American Airlines 13,24% e a JetBlue 10,81%.

Depois de terem sofrido a sua pior semana desde 2008, os índices de Wall Street evoluem conforme as manchetes sobre a epidemia e alternam subidas e descidas desde segunda-feira.

Hoje, tornaram a ficar sobre forte pressão, com o seletivo Dow Jones Industrial Average a perder 3,58%, o tecnológico Nasdaq a desvalorizar 3,10% e o alargado S&P500 a contrair 3,39%.

Este comportamento do mercado de capitais perante o novo coronavírus não deve ser do agrado de Donald Trump. Este fez dos desempenhos económicos dos EUA e da subida dos índices bolsistas para níveis recordes um dos principais argumentos da sua recandidatura á Casa Branca.

As bolsas europeias também conheceram hoje uma sessão caótica, marcada por muito nervosismo, com Paris a perder 1,90%, Francoforte 1,51%, Londres 1,62%, Madrid 2,42% e Bruxelas 1,48%.

A incerteza manifestou-se também no mercado petrolífero, com o Brent a fechar abaixo do patamar simbólico dos 50 dólares por barril pela primeira vez desde julho de 2017.

Perante a abundância da oferta de petróleo no mundo, apesar de a procura de energia sofrer diretamente com a crise sanitária que paralisa transportes e fábricas, os 13 membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) propuseram hoje a redução da sua produção em 1,5 milhões de barris por dia até ao final de junho próximo.

Mas esta recomendação deve ser – ou não – aprovada na sexta-feira pelos 10 parceiros externos da OPEP, entre os quais a Federação Russa, que parece reticente em aceitá-la.

Ansiosos os investidores viraram-se para ativos que consideram mais seguros.

Sinal de uma forte procura pelos títulos de dívida dos EUA, considerados um valor refúgio porque a probabilidade de um governo norte-americano declarar que não paga a dívida é muito fraca, a taxa daqueles títulos a 10 anos passou, pela primeira vez, abaixo do limiar dos 0,9%.

Por seu lado, o ouro subiu para o seu máximo desde 2013, até aos 1.674,74 dólares por onça.

O sentimento que os dirigentes por todo o mundo vão tomar medidas para lutar contra a epidemia e apoiar a economia, a exemplo do que fez o banco central dos EUA na terça-feira, com uma descida urgente das taxas de juro de referência, reanimou um pouco a confiança dos investidores na quarta-feira.

Mas “ainda persistem muitas questões em torno das medidas de apoio à economia, perante a dimensão mundial do problema sanitário”, avançou Patrick O’Hare, da Briefing.

“Os investidores vão continuar a esperar mais medidas de relançamento (da economia), nem que seja porque a propagação aos EUA – a maior economia do mundo – apenas começou agora”, acrescentou.

Os investidores em Wall Street têm-se apresentado particularmente sensíveis à declaração do estado de emergência na Califórnia.

“As empresas ainda não divulgaram muitos detalhes, tirando a declaração de que a epidemia tinha perturbado as suas cadeias de aprovisionamento e ia afetar a sua atividade”, sublinhou Krosby.

Se a epidemia se estender ainda mais, se as pessoas pararem de consumir, de sair, de ir ao restaurante, “a questão é a de saber se (as empresas) vão começar a fazer despedimentos”, realçou esta analista da Prudential.

Depois, vai ser preciso determinar “qual vai ser o impacto nas despesas de consumo, sabendo que estas representam nos EUA 68% do produto interno bruto”, acrescentou.

MAIS NOTÍCIAS