Mais de metade (53%) das crianças no Sahel central não se sentem seguras na escola, conclui um relatório do Conselho Norueguês para os Refugiados, que identifica níveis alarmantes de stress infantil devido a constantes ataques contra centros educativos.
O relatório, intitulado "Melhorar o bem-estar e a aprendizagem das crianças no Sahel central", põe em foco o impacto psicológico que os conflitos e a violência têm nos menores de países como Mali, Burkina Faso ou Níger, afetando o seu comportamento e a sua capacidade de aprendizagem, com quase dois terços (64%) a dizer que têm pouca ou nenhuma esperança no futuro.
"O desejo de aprender nunca deveria ser superado pela necessidade de esconder-se", disse Marta Schena, especialista em educação do Conselho Norueguês para os Refugiados, citada num comunicado da organização.
"Estas crianças presenciaram ou suportaram múltiplos tipos de violência que lhes provocaram stress e traumas crónicos. É nosso dever ajudá-las a redescobrir a linguagem da inocência, a alegria e a curiosidade", acrescentou.
Um alto nível de stress leva as crianças a render menos na escola: 62% das crianças inquiridas no estudo dizem ser incapazes de se concentrar e nove em cada dez assumem ter problemas para gerir as suas emoções.
Alguns meninos isolam-se e deixam de interagir com os colegas ou de participar nas aulas, enquanto outros exprimem o seu stress através da agressividade ou de ataques de pânico, acrescenta o estudo.
"É evidente que as nossas crianças estão stressadas e ansiosas. Algumas acordam durante a noite devido a pesadelos, outras choram de forma errática", disse Aanan, um pai de Tillabéri, no Níger.
Como os grupos armados muitas vezes lançam ataques em motas, Aanan conta que o simples som de uma motorizada lança o pânico em alguns dos meninos.
"Quando ouvem o ruído das motas a passar, procuram imediatamente um lugar para se esconderem", afirma.
O Conselho Norueguês para os Refugiados denuncia que a crise de segurança no Sahel central tem vindo a deteriorar-se devido ao aumento dos ataques de grupos armados não estatais e a disputas intercomunitárias em países como o Mali, o Burkina Faso e o Níger.
O impacto humanitário desta crise é preocupante e o número de deslocados multiplicou-se por dez nos últimos anos, passando de 213.000 em 2013 para 2,5 milhões no final de 2021.
A insegurança, combinada com a pobreza extrema, as alterações climáticas, a insegurança alimentar, a malnutrição e a pandemia de covid-19, deixou cerca de 3,5 milhões de pessoas, incluindo 1,7 milhões de crianças, a precisar de ajuda humanitária.
A crise de segurança provocou também o encerramento de mais de 5.500 escolas no Mali, Burkina Faso e Níger, deixando as crianças sem uma importante rede de apoio.
Apesar do aumento das necessidades, o financiamento e o apoio ao setor da educação não chegam.
Em 2021, só 6,5% das necessidades educativas no Burkina Faso e 7,9% no Níger foram cobertas, o que converte a Educação no setor menos financiado da resposta humanitária em ambos os países.
Para a organização humanitária norueguesa, as escolas podem desempenhar um papel essencial para curar as feridas psicológicas de milhões de crianças e ajudá-los a recuperar a sensação de normalidade, mas para isso têm de voltar a ser lugares seguros.