O Programa Regional para a Saúde Mental dos Açores, colocado hoje em consulta pública, propõe uma maior articulação entre entidades e a capacitação de profissionais para uma identificação mais precoce da doença.
“Cuidados de proximidade primeiro, com recurso aos cuidados de saúde primários, apoio dos serviços hospitalares e, mais do que isso, apostar na prevenção a vários níveis, na escola, no trabalho, nos centros de emprego, através de sinalização precoce e de capacitação de profissionais”, avançou hoje o coordenador da estrutura para a saúde mental da região, Henrique Prata Ribeiro, numa conferência de imprensa, em Angra do Heroísmo.
Com um rácio de 5,1 psiquiatras por 100 mil habitantes, os Açores não podem apostar apenas na contratação de especialistas, devem capacitar outros profissionais, como os médicos de medicina geral e familiar, defendeu Henrique Prata Ribeiro.
“Quem vê mais doentes psiquiátricos, ao contrário do que se possa achar, são os médicos de medicina geral e familiar, porque são eles que tratam as perturbações menos graves. Só as perturbações graves devem ir para os cuidados hospitalares”, salientou.
A “articulação entre serviços na região”, como cuidados domiciliários, cuidados de saúde primários e cuidados hospitalares, é uma prioridade, segundo o coordenador da estrutura para a saúde mental.
Henrique Prata Ribeiro propõe ainda uma maior articulação com unidades hospitalares do continente, através de um sistema de videoconferência, e a colaboração entre “público, privado e social”.
“Este programa está desenhado para deixar um Serviço Regional de Saúde mais forte, mas que tenha articulação e seja flexível na contratação dos seus profissionais e nas entidades com as quais interage, que consiga juntar o público, o privado e o social, que consiga criar articulação e sinergia”, sublinhou.
Segundo o especialista, ainda não é possível medir “o impacto real” na saúde mental da redução de cuidados primários durante a pandemia de covid-19, mas o agravamento de sintomas de depressão ou ansiedade neste período faz antever a necessidade de reforçar a resposta nesta área.
“Há uma pequena percentagem de casos que vai progredir para doença psiquiátrica”, alertou.
Estudos a nível internacional apontam para um aumento de 50 milhões de casos de depressão e 70 milhões de casos de perturbação de ansiedade, devido à pandemia de covid-19.
Em Portugal, foram identificados como grupos de risco mulheres, jovens, desempregados e pessoas que já sofriam de doença psiquiátrica e já se encontravam medicadas com psicofármacos.
Para o secretário regional da Saúde e Desporto, Clélio Meneses, o objetivo deste programa é tornar a resposta de saúde mental “cada vez mais precoce e mais eficaz” para evitar “situações de pessoas que não são acompanhadas” e em que “a doença progride de uma forma mais intensa”.
“Mais acompanhamento nas escolas, um acompanhamento muito precoce, muito presente, muito próximo, para identificar todos os sinais que possam levar a uma situação que mais tarde terá uma intervenção muito mais complexa”, defendeu.
Clélio Meneses considerou que a saúde mental nos Açores necessita de uma intervenção “profunda, transversal e impactante na sociedade”.
“Os Açores pela sua dispersão, pela fragilidade do próprio serviço de saúde, nalgumas áreas, nomeadamente na psiquiatria e na pedopsiquiatria, necessitam de uma intervenção que seja urgente”, reforçou.
Essa intervenção é ainda “mais premente” devido à pandemia de covid-19, alertou o titular da pasta da Saúde.
“A pandemia tem tido um impacto muito negativo ao nível da saúde mental e torna de facto necessário que os grandes danos causados a este nível sejam objeto de uma intervenção também direcionada para esta questão”, frisou.
O Programa Regional para a Saúde Mental dos Açores estará em consulta pública durante um mês e deverá ser implementado até 2023.