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Democracias devem apostar nos direitos humanos para suplantar autocracias - HRW

LUSA
13-01-2022 08:09h

Os líderes das democracias devem abandonar as batalhas partidárias e enfrentar as novas ameaças aos direitos humanos para que o regime prevaleça face à autocracia, defendeu hoje o diretor executivo da Human Rights Watch (HRW).

No dia em que a organização lança o seu relatório anual sobre o estado dos direitos humanos no mundo relativo a 2021, Kenneth Roth considerou que os ditadores “estão a viver o seu momento ao sol”, como demonstra a intensificação da repressão em vários países, porque os líderes das democracias estão a falhar face a novos desafios.

“Os líderes democráticos de hoje não estão a enfrentar os desafios que lhes são colocados, seja a crise climática, a pandemia de covid-19, a pobreza e a desigualdade, a injustiça racial ou as ameaças da tecnologia moderna”, criticou o responsável da HRW.

“Esses líderes estão, muitas vezes, demasiado atolados em batalhas partidárias e preocupações de curto prazo para abordar estes problemas de forma eficaz”, acrescentou.

Roth defendeu que “para que as democracias prevaleçam na disputa global com a autocracia, os seus líderes devem fazer mais do que destacar as inevitáveis deficiências dos autocratas”, adiantando que a democracias ainda é, como afirmou o ex-primeiro-ministro britânico Winston Churchill, a forma menos má de governar.

A visão de que a autocracia é um regime em alta face à democracia “ganha força com a intensificação da repressão às vozes da oposição na China, Rússia, Bielorrússia, Myanmar, Turquia, Tailândia, Egito, Uganda, Sri Lanka, Bangladesh, Venezuela ou Nicarágua” e “encontra apoio em conquistas militares do poder como em Myanmar, no Sudão, Mali e Guiné”, reconheceu.

Também “é sustentada pelo surgimento de líderes com tendências autocráticas em democracias outrora ou ainda estabelecidas, como a Hungria, a Polónia, o Brasil, El Salvador, a Índia, as Filipinas e, até há um ano, os Estados Unidos”, adiantou.

Mas, assegurou Roth, a perceção do crescimento das ditaduras “é superficial” e o futuro dos autocratas “é sombrio”. “As pessoas veem que os governantes dão, inevitavelmente, prioridade aos seus próprios interesses sobre os da população, e, por isso, os apelos para o estabelecimento de uma democracia que respeite os direitos permanecem fortes”, afirmou.

Durante o ano de 2021, “vários países viram um grande número de pessoas sair para as ruas, mesmo correndo o risco de serem presas ou atingidas por balas” para protestar contra medidas ditatoriais e pedir democracia e respeito pelos direitos humanos, congratulou-se Kenneth Roth.

“De Cuba a Hong Kong, as pessoas saíram às ruas exigindo democracia quando governantes irresponsáveis deram prioridade, como costumam fazer, aos seus próprios interesses”, adiantou.

Ainda assim, “se as democracias querem ganhar [o combate]”, os seus líderes têm de “defender instituições democráticas como tribunais independentes, imprensa livre, legislaturas robustas e sociedades civis participativas, mesmo quando isso leva a escrutínios indesejados ou desafios às suas opções políticas”, salientou, adiantando que isso também “exige elevar o discurso público” e unificar a população “em vez de a dividir para conseguir outro mandato”.

Se os líderes das democracias continuarem “incapazes de ter uma liderança visionária, correm o risco de alimentar a frustração e o desespero que são terreno fértil para os autocratas”, alertou.

“Para persuadir as pessoas a abandonarem o governo egoísta dos autocratas, as democracias precisam de lidar melhor com os males da sociedade”, defendeu Roth, referindo o exemplo das alterações climáticas.

“A crise climática representa uma ameaça terrível para a humanidade, mas os líderes democráticos estão apenas a levantar o véu do problema” e “parecem incapazes de ultrapassar os interesses estabelecidos para tomar as medidas necessárias para evitar consequências catastróficas”, considerou.

Por outro lado, acrescentou, a pandemia de covid-19 “também expôs as fragilidades dos líderes democráticos” já que as democracias “não conseguiram garantir que as pessoas dos países mais pobres partilhassem essa invenção que salva vidas”, as vacinas.

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