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MSF alertam para deterioração da situação na província moçambicana de Cabo Delgado

LUSA
17-02-2020 18:52h

Os Médicos Sem Fronteiras (MSF) alertaram para a deterioração da situação na província moçambicana de Cabo Delgado, onde coincidem a violência, fenómenos climáticos extremos e serviços públicos de saúde muito frágeis.

"Cabo Delgado é uma província extremamente pobre e negligenciada. A população de Cabo Delgado enfrenta violência, eventos climáticos extremos e serviços públicos fracos, incluindo o acesso muito limitado aos cuidados básicos de saúde", descreveu Bruno Cardoso, coordenador do projeto dos MSF em Cabo Delgado.

O responsável, que regressou recentemente do terreno, sublinhou as "enormes necessidades" existentes numa região "rica em recursos naturais" e com "um enorme potencial económico".

"No entanto, estes recursos e a sua localização na fronteira com a Tanzânia deixaram a província repleta de atividades ilegais, incluindo drogas e contrabando de marfim. Esta situação tem-se deteriorado seriamente desde que começou a extração de uma das maiores reservas de gás natural do mundo", adiantou.

Os MSF prestam cuidados de saúde na província de Cabo Delgado desde fevereiro de 2019, onde os cuidados de saúde são, em geral, piores que os já de si fracos indicadores do resto de Moçambique.

A situação agravou-se, segundo os MSF, com devastação causada pelo ciclone Kenneth, em abril do ano passado, o que obrigou a equipa a desviar os recursos para a resposta de emergência aos deslocados e ao surto de cólera surgido na sequência do ciclone.

Os MSF sustentam também que a região enfrenta "um conflito negligenciado", numa alusão aos ataques levados a cabo desde finais de 2017 por grupos rebeldes.

Citando dados da empresa de gestão de risco Rhula, Bruno Cardoso alertou para o facto de o conflito estar a alastrar para o sul, tendo já registado 300 ataques que mataram mais de 700 pessoas.

"As equipas de MSF testemunharam filas de pessoas a caminhar nas estradas principais, enquanto as suas aldeias ardiam. Muitas pessoas têm sido forçadas a fugir das suas casas e a mudar-se para outros lugares na província", apontou.

Sublinhando a dificuldade de uma contagem exata, os MSF citam a Organização Internacional das Migrações (OIM), que registou mais de 60 mil deslocados.

Os MSF apontam ainda a deterioração dos cuidados de saúde em Cabo Delgado, adiantando que muitos profissionais fugiram da região, deixando os centros de saúde desertos.

"Como resultado, o acesso aos cuidados de saúde é extremamente limitado em comparação com as necessidades da província, especialmente relacionadas com a malária, malnutrição, doenças respiratórias e cuidados pré-natais", afirmou a organização.

Para os MSF, “a situação das pessoas deslocadas pela violência ou pelo ciclone é ainda mais crítica”.

“O nosso foco principal tem sido Macomia, uma cidade do interior onde vivem atualmente muitos deslocados e onde os serviços de saúde não são capazes de responder à procura", salientou a organização.

Reabilitação das instalações danificadas pelo ciclone, melhoria do sistema de triagem e formação de pessoal médico, nomeadamente dos departamentos de maternidade, ambulatório adulto e pediátrico e saúde sexual e reprodutiva, são algumas ações da missão dos MSF.

A organização aponta a segurança como um "grande desafio" para as suas atividades na província, sublinhando a necessidade de se expandir para áreas onde as necessidades são maiores.

"Temos de ser realistas, as necessidades são grandes e somos a única organização médica a trabalhar na zona de conflito de Cabo Delgado. Teremos de continuar a concentrar-nos em áreas onde possamos ter um impacto real", disse, manifestando a vontade de expandir o apoio a algumas ilhas e cidades costeiras.

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