As autoridades chinesas criticaram hoje as recomendações transmitidas pelos Estados Unidos aos respetivos cidadãos no âmbito do surto do novo coronavírus detetado na China, afirmando que o conselho norte-americano para não viajar ou abandonar o território chinês é inapropriado.
“As palavras e os atos de alguns responsáveis norte-americanos não têm fundamento em factos nem são apropriados”, declarou uma porta-voz da diplomacia chinesa, Hua Chunying, num comunicado.
“Embora a Organização Mundial de Saúde (OMS) tenha recomendado a não restrição de viagens, os Estados Unidos precipitaram-se em sentido contrário. Isto não é certamente um gesto de boa vontade", acrescentou a porta-voz chinesa.
A OMS declarou na quinta-feira emergência de saúde pública internacional o surto do novo coronavírus na China, sendo a sexta vez, desde 2009, que a organização internacional toma esta decisão.
Isto significa que o atual surto se trata de um acontecimento extraordinário, com perigo elevado para a saúde pública e que exige uma resposta internacional coordenada.
Ainda na quinta-feira, a OMS opôs-se à restrição de viagens, apesar de o surto do novo coronavírus na China já contabilizar 213 mortos e quase 10 mil infetados, segundo o último balanço das autoridades chinesas.
Algumas horas depois do anúncio da OMS, o Departamento de Estado norte-americano elevava o nível de alerta, recomendando aos cidadãos norte-americanos para não viajarem para a China e aconselhando aqueles que estivessem no território chinês a abandonarem aquele país.
Os norte-americanos "atualmente na China devem explorar a possibilidade de deixar o país usando meios comerciais", indicou a diplomacia norte-americana, num comunicado.
O Departamento de Estado solicitou igualmente que todos os funcionários não essenciais da administração dos Estados Unidos adiassem qualquer deslocação à China.
O nível de alerta para a China é agora de 4 (o mais elevado numa escala de quatro níveis), o mesmo aplicado a países como Afeganistão, Iraque ou Irão.
Segundo as estatísticas oficiais chinesas, perto de 2,5 milhões de viajantes procedentes dos Estados Unidos entraram na China em 2018.
O comunicado da diplomacia chinesa não faz referência às declarações feitas na quinta-feira pelo secretário do Comércio norte-americano, Wilbur Ross, que suscitaram uma série de reações indignadas nas redes sociais.
No canal televisivo Fox Business, Wilbur Ross afirmou que o novo coronavírus que atinge a China e levou ao encerramento temporário de empresas no país "ajudará a acelerar o regresso de empregos à América do Norte".
Depois de se ter afirmado impressionado com o custo humano do surto, Ross admitiu que se trata para as empresas de "um novo fator de risco" a ter em conta.
"Penso que isso ajudará a acelerar o regresso de empregos à América do Norte, alguns para os Estados Unidos, provavelmente outros para o México", declarou na quinta-feira.
Segundo o secretário do Comércio, o encerramento provisório de várias unidades e fábricas para evitar a propagação do vírus em determinadas regiões pode levar as empresas a repensar as ligações aos seus fornecedores.
"Não quero falar de uma vitória quando se trata de uma doença tão triste e prejudicial", acrescentou na altura Ross.
O novo coronavírus (2019-nCoV) foi detetado no final do ano em Wuhan, capital da província de Hubei (centro da China).
A estripe pode provocar doença respiratória potencialmente grave, como a pneumonia.
Além do território continental da China e das regiões chinesas de Macau e Hong Kong, há mais de 50 casos de infeção confirmados em 22 outros países - Tailândia, Japão, Coreia do Sul, Taiwan, Singapura, Vietname, Nepal, Malásia, Estados Unidos, Canadá, França, Alemanha, Itália, Reino Unido, Austrália, Finlândia, Suécia, Emirados Árabes Unidos, Camboja, Filipinas, Índia e Rússia.