Os sindicatos fazem um balanço "muito positivo" dos efeitos da greve da Função Pública no Hospital de São João, no Porto, o maior da região Norte, assinalando a paragem de muitos serviços e fortes condicionamentos noutros.
Segundo Mário Jorge Sobrinho, do Sindicato dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais do Norte (STFPSN), dos 12 blocos operatórios do São João apenas três funcionam, os destinados aos serviços urgentes.
No caso da pediatria só funcionam os atendimentos relacionados com oncologia, "o que é perfeitamente compreensível".
Num balanço pouco depois das 09:00, a fonte referiu nomeadamente que a cirurgia torácica fechou, o mesmo se passando com a estomatologia. Em oftalmologia havia apenas um especialista.
Nos pavilhões de consultas externas, as unidades de serviço estavam fechadas ou a funcionar apenas com outro trabalhador.
E na receção das consultas, onde habitualmente estão abertos 10 balcões, apenas funcionavam três.
"Não há administrativos nem assistentes operacionais", garantiu.
Outro dirigente do STFPSN, o coordenador Orlando Gonçalves, admitiu que a greve foi prejudicada por serviços mínimos impostos.
"São serviços mínimos quase máximos", declarou à agência Lusa.
Por sua vez, Assunção Nogueira do Sindicato dos Técnicos de Diagnóstico, garantiu que no São João há uma adesão forte à greve dos especialistas da área, afetando a Radiologia e, por consequência, consultas e cirurgias.
Entre os utentes do Hospital de São João afetados pela greve conta-se Rui Pedro Ferreira, 40 anos. Viajou 150 quilómetros de Valença ao Porto para fazer análises e "nada".
Sabia que havia greve, "mas pensava que iria encontrar alguém para serviços mínimos. Não encontrei nem assistentes operacionais, nem enfermeiros", lamentou.
Ao início da manhã havia muitas pessoas de saída da zona de consultas externas do São João, algumas queixando-se para quem ficava por não terem sido atendidas, constatou a Lusa.
Adília Soares, 51 anos, foi das que ficou, mas estava na incerteza quanto à possibilidade de fazer ou não uma ecografia programada.
"Disseram para esperar, mas não garantem que seja atendida", declarou.
Esta é a primeira greve nacional da função pública desde que o atual Governo liderado por António Costa tomou posse, em outubro, e acontece a menos de uma semana da votação final global da proposta de Orçamento do Estado para 2020 (OE2020), marcada para 06 de fevereiro.
Os sindicatos contestam a proposta de 0,3% de aumentos salariais para este ano apresentada pelo Governo, que consideram "ofensiva" após dez anos de congelamento, e a forma como o processo negocial decorreu.
Além de aumentos salariais "dignos", as estruturas sindicais reclamam a correção da Tabela Remuneratória Única, a revisão do sistema de avaliação de desempenho e o alargamento da ADSE aos trabalhadores em regime de contrato individual de trabalho do Estado aos trabalhadores precários que foram regularizados.
No setor da saúde, emitiram pré-avisos de greve para hoje estruturas como as federações nacionais dos médicos (FNAM) e a dos enfermeiros (FENSE) e o Sindicato Nacional dos Técnicos Superiores de Saúde das Áreas do Diagnóstico e Terapêutica (STSS).