SAÚDE QUE SE VÊ

Utente tem direito à indignação, mas não pode haver violência - Coordenador de plano

LUSA
30-01-2020 18:55h

O coordenador do plano para a prevenção da violência no setor da saúde defendeu hoje que o utente tem direito à indignação e que a sua reclamação deve ter uma “resposta efetiva”, mas “não pode haver lugar à violência”.

“Quando as coisas não correm bem as pessoas têm o direito à indignação, o direito à reclamação, que deve ter “uma resposta efetiva e cabal, mas não pode haver lugar à violência e esse tem de ser o nosso lema”, afirmou André Biscaia na apresentação do Plano de Ação para a Prevenção da Violência no Setor da Saúde (PAPVSS), no qual esteve presente a ministra da Saúde, Marta Temido, e o secretário de Estado da Saúde, António Sales.

André Biscaia, da Direção-Geral da Saúde (DGS), sublinhou que “tudo isto tem consequências, não só para a vítima, mas também para a instituição em relação à sua imagem e para a sociedade”.

“Este plano tem que ser ambicioso e a nossa visão é promover ambientes organizacionais saudáveis e uma cultura de não violência no setor da saúde”, defendeu.

O objetivo é contribuir para que “as organizações e os trabalhadores do setor da saúde possam exercer a sua atividade em segurança”.

“A prevenção vai ser a palavra que mais vezes vamos repetir, mas também mitigar as consequências da violência no setor da saúde”, sublinhou o coordenador do PAPVSS, plano que se insere no Programa Nacional de Prevenção da Violência no Ciclo de Vida da DGS.

Este plano pretende dar continuidade ao trabalho já realizado neste domínio através de orientações e normativos da Direção-Geral da Saúde, alargando e reforçando algumas experiências e projetos que já são aplicados ao nível regional e local.

Durante a apresentação, André Biscaia lembrou um estudo promovido pela Organização Mundial da Saúde em 2002 e que foi feito em vários países em que se concluiu que anualmente metade dos profissionais foram vítimas de violência física ou psicológica.

“O nosso estudo nacional revelou que 60% dos profissionais dos cuidados de saúde primários tiveram pelo menos um episódio de violência nos últimos 12 meses, 37% nos cuidados hospitalares e 78% nos centros de atendimento de saúde mental e comunitários”.

Com base neste trabalho, a DGS tem realizado “muito trabalho” nesta área e desde 2006 há uma circular que enquadra o problema.

Desde 2007 até 2015, havia relatórios muito detalhados sobre esta área. “Em 2015, por exemplo, tinham acontecido 582 notificações”, metade destas dos hospitais e 34% dos centros de saúde.

Dos agressores, 50% eram doentes, 23% familiares de doentes e 19% profissionais de saúde, muitas vezes da própria unidade de saúde, 3% acompanhantes do doente. Metade dos agressores eram homens e a outra metade mulheres.

“O objetivo deste plano é que a violência deixe de ter esta frequência e deixe de fazer parte do dia a dia dos profissionais”, defendeu.

“O fenómeno da violência, que é multifatorial, muitas vezes começa no ciclo de vida”, disse, explicando que “tem muito a ver com a maneira como as pessoas foram educadas na sua infância e juventude, os seus laços familiares, a sua experiência de escola e de trabalho e também os valores da sociedade aquilo que é transmitido nos órgão de comunicação social”.

Segundo o secretário de Estado da Saúde, a maioria das medidas que fazem parte do plano vão ser postas em prática em fevereiro.

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