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Covid-19: Pandemia duplicou cuidadores informais mas apenas 1% do orçamento foi executado

LUSA
04-02-2021 20:25h

O universo de cuidadores informais duplicou devido à pandemia de covid-19, mas foi executado menos de 1% do orçamento que lhes era destinado em 2020, revelou hoje uma representante da Associação Nacional de Cuidadores Informais (ANCI).

Apenas 300 mil euros do orçamento de 30 milhões destinado aos cuidadores informais foi executado em 2020, frisou Liliana Chaves Gonçalves, em audição parlamentar, apesar de o “número de cidadãos que cuidam de pessoas dependentes” ter aumentado de “857 mil para 1,5 milhões, dos quais 240 mil a tempo inteiro”.

“Foi gasto menos de 1% do orçamento destinado aos cuidadores informais e, até ao momento, nos projetos-piloto para o requerimento do estatuto, ao que nos é dado a conhecer, um universo de 1.131 pessoas tem o estatuto, 410 nos 30 concelhos piloto e 205 com atribuição de subsídio de apoio ao cuidador”, detalhou a representante da ANCI.

Ouvida por videoconferência, na Assembleia da República, Liliana Chaves Gonçalves frisou que esta reduzida execução do orçamento aconteceu apesar de praticamente ter duplicado o número de cuidadores informais devido à pandemia e apelou, por isso, a uma maior desburocratização do acesso ao estatuto.

“Se pensarmos que o universo antes da pandemia nos situa nos 857 mil cuidadores, percebemos por esta dimensão que estamos longe de alcançar o objetivo de transformar o estatuto numa lei para todos”, inferiu a cuidadora.

As “limitações e fecho de respostas sociais”, como os centros de dia, bem como “o não reforço do apoio domiciliário” são alguns dos motivos que ajudam a perceber a baixa execução, mas a dificuldade de acesso ao estatuto continua a ser o principal obstáculo.

“É urgente implementar medidas que possam desburocratizar o acesso ao estatuto de cuidador e também a regulamentação da proteção laboral dos cuidadores”, apontou Liliana Chaves Gonçalves na comissão eventual para o acompanhamento das medidas de resposta à pandemia da doença covid-19 e do processo de recuperação económica e social.

Nesse sentido, sugeriu “ativar os municípios e juntas de freguesia” na informação aos cuidadores, uma vez que em função da sua proximidade com os mesmos “poderiam dar um contributo significativo para o esclarecimento de como as pessoas podem pedir o acesso ao estatuto” de cuidador informal.

Sobre a “ausência de legislação e medidas de conciliação laboral” para a prestação de cuidados, a representante da ANCI defendeu uma “maior articulação entre o setor da saúde e o setor social”.

“Percebemos pelos projetos-piloto que este passo está a ser dado com grande morosidade, mas é o primeiro passo que tem de existir para que as respostas de apoio domiciliário possam ser transformadas”, frisou.

A melhoria das respostas de apoio domiciliário foi, também, um dos principais argumentos utilizados na defesa das “respostas para capacitação e descanso ao cuidador”, que são “um direito consagrado por lei” e estão previstas no estatuto.

Por fim, Liliana Chaves Gonçalves questionou ainda a “resistência à inclusão” dos cuidadores informais no grupo de cidadãos prioritários na campanha de vacinação contra a covid-19, uma vez que são eles quem “em primeiro lugar asseguram os cuidados das pessoas dependentes e aos doentes crónicos que estão em casa”.

“Não compreendemos porque é que a vacinação não contempla os cuidadores pelo menos na segunda fase do grupo prioritário e porque é que as pessoas com deficiência e abaixo dos 50 anos [não] são consideradas também elas um grupo de vulnerabilidade”, criticou.

O estatuto do cuidador informal, aprovado em julho de 2019, previa que em 30 concelhos tivessem começado a 01 de abril projetos-piloto, que implicam medidas de apoio, incluindo a atribuição de "profissionais de referência, da área da Saúde e da Segurança Social, que farão um plano de intervenção que irá incluir medidas de acompanhamento, aconselhamento, capacitação e formação para o cuidador".

No âmbito destes projetos-piloto, os cuidadores informais principais terão acesso a um novo subsídio de apoio específico, que tem o valor de referência de 438,81 euros e será variável em função dos rendimentos.

 

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