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Guiné-Bissau assiste ao nascimento dos primeiros quadrigémeos em quatro décadas

LUSA
29-01-2020 10:40h

A Guiné-Bissau assistiu na semana passada ao nascimento dos primeiros quadrigémeos em quatro décadas, anunciou hoje a ministra da Saúde guineense, Magda Nely Robalo.

"Nós tivemos agora a notícia, que para mim, até agora, é a melhor notícia do ano, do nascimento de quatro gémeos lindos que fazem saltar o coração dos guineenses, porque já não acontecia há quatro décadas", disse a ministra à Lusa.

Magda Nely Robalo explicou que a mãe foi transferida de Canchungo para Bissau, depois de ter sido identificada com uma gravidez de alto risco.

"Na Guiné-Bissau, a gravidez e o parto são momentos muito temidos pelas mulheres e por nós, profissionais de saúde, porque infelizmente ainda temos muitas mulheres que deixam as suas vidas ou as vidas dos seus recém-nascidos neste período de gravidez, parto, pós-parto. Por isso, que esta gravidez tenha chegado ao fim da forma como chegou, que os quatro bebés tenham nascido com saúde é para nós um motivo de muita alegria", afirmou.

Os quadrigémeos, três rapazes e uma rapariga, ainda se encontram nos cuidados de neonatologia do Hospital Nacional Simão Mendes, em Bissau, tal como a mãe.

A Guiné-Bissau tem uma das taxas de mortalidade materna mais elevada do mundo.

Segundo os números fornecidos pelo Ministério da Saúde, em 100.000 nascimentos, 900 mulheres morrem.

Os números do Fundo das Nações Unidas para a Infância indicam que na Guiné-Bissau em cada 26 nascimentos uma criança morre.

Questionada pela Lusa sobre se as mulheres guineenses já recorrem com mais frequência aos serviços de saúde para acompanhamento da gravidez, Magda Nely Robalo disse que sim, mas salientou que as taxas ainda são muito baixas.

"Geralmente a maior parte vai muito tarde, no final do segundo trimestre ou no princípio do último, porque ainda há tabus à volta da gravidez e geralmente quando veem, nessa altura ou mais cedo, se está tudo bem já não regressam", afirmou.

Para a ministra guineense é fundamental continuar a trabalhar com as mulheres para irem mais cedo às consultas para que possam ter uma gravidez acompanhada com pelo menos quatro consultas.

"Nós sabemos que há imensas dificuldades que dificultam o acesso às consultas, questões de transporte, questões financeiras, mas o trabalho importante a desenvolver com os nossos parceiros é exatamente o de facilitar o acesso às mulheres para que tenham uma gravidez saudável", salientou.

O Ministério da Saúde da Guiné-Bissau criou também um programa para sensibilizar as jovens sobre a gravidez.

Segundo a ministra, é necessário que a "gravidez também seja um momento desejado" e que não aconteça quando as raparigas ainda não têm idade para estarem grávidas, nomeadamente devido ao casamento precoce e a práticas e tradições culturais que ainda existem na sociedade guineense.

"O empoderamento feminino também entra aqui como um fator importante para a saúde mulher. Não é só ter os medicamentos no hospital, mas é também trabalhar com as mulheres e com os homens para que a sociedade possa ser mais harmoniosa no sentido de tomada de posição do casal e que as mulheres possam ter uma palavra a dizer sobre aquilo que gostariam de ter em termos de família", afirmou.

A ministra explicou também que a esterilidade ainda é um drama no país e é "vivido de uma maneira dramática e quase punitiva para a mulher".

"Tudo passa por muita educação, por muito trabalho de consciencialização e, sobretudo, por uma colaboração intersetorial. Nós precisamos de trabalhar nos vários setores, com diferentes departamentos e a nível das cidades e sobretudo nos meios rurais onde as mulheres ainda estão numa situação muito desprivilegiada e que não facilita a sua emancipação", disse.

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