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Vírus: Da selva cambojana à hermética Coreia do Norte, efeitos sentem-se em toda a Ásia

LUSA
28-01-2020 17:07h

Da selva cambojana à Coreia do Norte, o novo coronavírus que se alastrou pela China está a ter repercussões em toda a Ásia, com fronteiras a serem encerradas e as populações a armazenarem máscaras e desinfetantes.

Em Kampot, uma vila com 30.000 habitantes no sul do Camboja, rodeada por selva e parques naturais, as máscaras cirúrgicas esgotaram hoje às primeiras horas da manhã nas duas únicas farmácias.

"É assim há vários dias", contou uma farmacêutica à agência Lusa. "As máscaras cirúrgicas esgotam diariamente logo após a reposição do stock, à medida que locais e turistas chineses acorrem a comprar às dezenas de cada vez", explicou.

As autoridades de saúde aconselham o uso de máscaras e a lavar as mãos com líquido desinfetante como forma de prevenção do contágio.

Na cidade de Ho Chi Minh, a mais populosa metrópole vietnamita, vários estabelecimentos hoteleiros passaram a rejeitar turistas oriundos da China, temendo contaminação.

"Cancelei todas as reservas de turistas vindos da China", admitiu à agência Lusa Tran My Anh, dona de uma hospedaria situada no centro de Ho Chi Minh. "Em Saigão [o antigo nome da cidade], muitos estabelecimentos hoteleiros fizeram o mesmo", contou.

O novo coronavírus originário no centro da China matou já mais de cem pessoas e infetou outras 4.515, numa altura em que milhões de chineses visitam os países vizinhos, por ocasião das férias do Ano Novo Lunar.

A Coreia do Norte, onde os chineses representam a esmagadora maioria dos turistas, foi ainda mais radical do que os hoteleiros vietnamitas e encerrou temporariamente as fronteiras a todos os turistas estrangeiros.

A partir desta quarta-feira, Pyongyang "fechará temporariamente as fronteiras a todos os turistas estrangeiros como medida de prevenção contra o coronavírus", revelou num comunicado a agência de viagens Young Pioneer Tours.

O vírus foi inicialmente detetado no mês passado num mercado de mariscos nos subúrbios de Wuhan, a capital da província de Hubei, que é também um importante centro de transporte doméstico e internacional, mas alastrou-se, entretanto, a várias províncias chinesas e aos países vizinhos.

Em Cantão, a capital de Guangdong, que é a segunda província chinesa mais afetada pelo coronavírus, o uso de máscaras passou a ser obrigatório, mas o "fornecimento destas foi, entretanto, desviado para Hubei e não há mais máscaras nas farmácias", contou à Lusa o local Zhang Wei.

"Quem tem máscaras está a vende-las por quatro vezes o preço original", explicou. "Só nos resta ficar em casa".

A fabricante japonesa de utensílios domésticos Iris Ohyama disse na segunda-feira que as suas vendas de máscaras triplicaram na semana passada face à semana anterior. A empresa pediu aos trabalhadores das suas fábricas na China que voltem mais cedo das férias do Ano Novo Lunar.

Em Taiwan, as autoridades garantiram que há máscaras suficientes e que a capacidade de produção diária atual de 1,88 milhão de unidades pode ser aumentada para 2,44 milhões para atender ao aumento na procura.

Taipé proibiu durante um mês a exportação de dois tipos de máscaras cirúrgicas para garantir o fornecimento doméstico e baniu visitas de turistas em grupos oriundos do continente chinês.

Também a região semiautónoma de Hong Kong anunciou hoje o encerramento das ligações ferroviárias ao continente chinês e suspendeu as permissões para turistas chineses visitarem o território.

Mas há também quem veja as coisas pelo lado positivo, depois de o Governo chinês ter prolongado as férias e recomendado às empresas que deixem os funcionários trabalhar a partir de casa.

"Tenho a despensa cheia, estou bem em casa, e é da maneira que não tenho que ir para o escritório todos os dias", comentou um estrangeiro radicado no norte da China.

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