As principais figuras do governo e do Partido Comunista em Wuhan, cidade chinesa de onde é originário o coronavírus que matou já mais de oitenta pessoas no país, propuseram hoje a demissão, assumindo "toda a responsabilidade".
As autoridades propuseram renunciar aos respetivos cargos face a crescentes críticas sobre a resposta inicial ao surto, que foi detetado no mês passado na cidade e acabou por se espalhar por todo país.
Inicialmente as autoridades locais reportaram apenas 41 pacientes, todos em Wuhan, e descartaram que a doença fosse transmissível entre seres humanos, mas o número de infetados aumentou rapidamente nas últimas duas semanas e atingiu hoje os 2.744, tendo já provocado a morte de 80 pessoas.
Zhou Xianwang, líder do governo local, disse em entrevista à emissora estatal CCTV que ele e Ma Guoqiang, secretário do Partido Comunista em Wuhan, propuseram renunciar aos cargos para "apaziguar a indignação pública".
Zhou disse que ambos assumem responsabilidade pela crise.
"Os nossos nomes viverão na infâmia, mas se for propício para o controlo da doença e a proteção da vida e da segurança das pessoas, o camarada Ma Guoqiang e eu assumiremos qualquer responsabilidade", disse Zhou.
Funcionários da saúde em Wuhan acusaram o governo local de reagir muito lentamente à crise, enquanto os residentes apelaram nas redes sociais sobre a quarentena de facto que foi imposta na cidade, com saída e entradas interditas pelas autoridades.
Zhou Xianwang defendeu a medida, que isolou a sétima maior cidade da China, com 11 milhões de pessoas, considerando-a uma restrição "sem precedentes na história humana".
A doença foi identificada como um novo tipo de coronavírus, semelhante à pneumonia atípica, ou Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), que entre 2002 e 2003 matou 650 pessoas na China continental e em Hong Kong.
Casos de coronavírus foram, entretanto, detetados nos Estados Unidos, França, Canadá, Austrália, Singapura, Malásia, Tailândia, Japão, Vietname, Coreia do Sul e Nepal.
O Centro Europeu de Controlo de Doenças admitiu que a possibilidade de transmissão secundária no espaço da União Europeia é baixa, "desde que sejam cumpridas as práticas de prevenção e controlo de infeção relacionadas com um eventual caso importado".
As autoridades chinesas alertaram que o país está no ponto "mais crítico" quanto ao controlo do vírus e suspenderam transportes, cancelaram celebrações do Ano Lunar do Rato e colocaram em quarentena 13 cidades.
Os sintomas associados à infeção causada pelo coronavírus com o nome provisório de 2019-nCoV são mais intensos do que uma gripe e incluem febre, dor, mal-estar geral e dificuldades respiratórias, como falta de ar.