João Araújo Correia garante em entrevista ao Canal S+ que este é um dos grandes problemas da crise pandémica em Portugal. O presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna lamenta que “os privados dão-nos camas, mas os médicos e os enfermeiros são os mesmos. Andam a correr de um lado para o outro”, afirma.
O Diretor de Serviço de Medicina Interna do Centro Hospitalar do Porto (CHP) denuncia que “Portugal nunca teve coragem de distinguir sector público e privado. Cada vez há menos médicos em exclusividade. E depois, pagar mal aos médicos e aos enfermeiros, na certeza que vão ter outro empreguinho… Quer dizer, pode-se aguentar algum tempo, mas é uma má solução. É uma solução pobre e provavelmente uma coisa de vistas muito curtas. Eu suponho que andamos há algum tempo com vistas muito curtas”, assegura.
Em comunicado, diversos grupos privados de Saúde, entre eles a Luz Saúde e os Lusiadas confirmaram que estão a pagar incentivos aos profissionais de saúde através de vales de compras para “enfermeiros embaixadores”. Os Lusíadas estão a pagar 150 euros por cada enfermeiro que seja sinalizado para recrutamento e 75 euros por cada auxiliar de acção médica. A Ordem dos Enfermeiros e o Bloco de Esquerda já criticaram esta forma de angariar novos profissionais para as unidades de saúde.
Para o presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna há ainda um outro aspeto da pandemia da COVID-19 que “é pouco falado”, afirma João Araújo Correia e que se agravou nos últimos 10 a 15 anos. Segundo o clínico, “por cada 100 mil habitantes, Portugal tem metade das camas do que a Alemanha. Nós temos cerca de 400 e eles têm 800. Quando há uma pandemia a entrar, nós não temos folga”, garante.
Otimista, João Araújo Correia acredita que no primeiro trimestre de 2021, vamos dispor de uma vacina eficaz contra a COVID-19. O presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna admite, ainda assim, que persistem diversas incógnitas a este respeito, como por exemplo: “Vai funcionar com os mais velhos? E quanto tempo dura? Se calhar vamos ter de a fazer todos os anos…”, interroga-se o especialista de Medicina Interna.
Para João Araújo Correia, “a distribuição (da vacina da Pfizer) afigura-se não muito fácil”, dado que precisa de temperaturas negativas inferiores à dos nossos frigoríficos domésticos, sublinha.
A pandemia da COVID-19 já provocou 3553 mortos em Portugal e infectou mais de 230 mil 124 pessoas, de acordo com os dados divulgados pela Direção Geral da Saúde (DGS)