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“As guerras não se ganham com generais, mas com soldados rasos”, afirma Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública

CANAL S+ / VD
03-11-2020 19:53h

No dia em que o Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa (CHTS) regista 10% dos internamentos nacionais por COVID-19, Gustavo Tato Borges lembra que “as guerras não se ganham com generais, mas com soldados rasos”. Para o vice-presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública (ANMSP) é fundamental que “se apliquem medidas a nível local, com um reforço de pessoas e de meios técnicos”.

O médico epidemiologista lembra que, desde o Verão, a ANMSP tem vindo a alertar o Governo para a necessidade de preparar medidas de combate a uma eventual segunda vaga que acabou por eclodir mais cedo do que se previa. O problema para Gustavo tato Borges é que apesar do reforço anunciado pelo Governo de mais enfermeiros, estes profissionais precisam de formação especializada, por exemplo, para os Cuidados Intensivos e quando estiverem devidamente preparados será seguramente tarde demais.

Segundo a Agência LUSA, que cita uma fonte da Administração Regional de Saúde do Norte (ARS-Norte), o presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa enviou ontem um mail à Ministra da Saúde, Marta Temido, e à ARS-Norte a pedir ajuda perante o internamento de 210 doentes covid-19, dos quais 10 em cuidados intensivos.

Na mensagem de correio eletrónico, Carlos Alberto Silva afirma: ““Já tenho 30 internados na urgência outra vez e hoje é segunda-feira, dia particularmente difícil. Se tiverem médicos de clínica geral que possam vir fazer urgência era bom porque tivemos aqui alguns positivos que fragilizaram as escalas. Está complicado”.

Os últimos números indicam que o CHTS tem hoje 235 internados, 11 dos quais internados em cuidados intensivos.

Em entrevista ao Canal S+, Gustavo Tato Borges, vice-presidente da ANMSP recorda que “o sistema de rede entre hospitais existe de forma informal, mas deveria ser algo centralizado”. Para o especialista de saúde pública e epidemiologista impõe-se que o Ministério da Saúde crie as bases concretas para que o “sistema de rede” entre hospitais, que possibilita a transferência de doentes por exemplo, possa ganhar maior agilidade e eficácia.

O vice-presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública, Gustavo Tato Borges, garante ainda que o problema não se circunscreve apenas ao CHTS, que dá assistência a cerca de 520 mil pessoas dos concelhos de Felgueiras, Paços de Ferreira e Lousada. “Sentimos impotência porque não conseguimos responder a este aumento exacerbado de casos e a todo o trabalho que nos é acometido” também nos Cuidados de Saúde Primários, alerta o médico epidemiologista “Por cada pessoa positiva, podemos ter em média 4 a 5 contactos”, assegura.

Ontem, fonte do Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa confirmou à Lusa que foram transferidos “cerca de 50” doentes covid-19 para outros hospitais da região, 30 dos quais para Amarante.

A mesma fonte indicou que o CHTS contabiliza “mais de 100” profissionais de saúde de todos os grupos profissionais, desde médicos a enfermeiros e assistentes operacionais, “infetados ou em isolamento profilático”.

 

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