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Único Banco de Cérebros Humanos do país “coleciona” cerca de 60 exemplares

LUSA
19-01-2020 22:17h

O único Banco de Cérebros Humanos do país, que funciona desde 2012 no Hospital de Santo António, Porto, tem uma “coleção” de cerca de 60 cérebros de pessoas com doenças neurológicas, destinados ao estudo, investigação e descoberta da cura.

Nos quatro primeiros anos, dois dos quais a funcionar como projeto-piloto, o banco recebeu oito doações, mas, oito anos volvidos, estas mais que duplicaram, triplicaram, quadruplicaram ou quintuplicaram e chegaram às 60, adiantou hoje à Lusa o coordenador-executivo, Ricardo Taipa.

“Passamos de dois a três cérebros por ano para cerca de um por mês. Por exemplo, este mês, que ainda não terminou, já recebemos duas doações”, contou.

O objetivo a médio prazo é “chegar perto” dos 15 cérebros por ano, número adequado aos recursos humanos do banco, onde trabalham dois neuropatologistas, duas técnicas e uma secretária, disse.

Ricardo Taipa salientou que, para serem mais ambiciosos, teriam de ver a equipa e a capacidade logística reforçada.

Na sala de autópsias, local onde se “trabalham” os cérebros, o coordenador-executivo explicou que, quando um dador morre, é-lhe retirado o cérebro que, depois, é cortado ao meio, sendo uma das metades congelada a fresco numa arca a 80 graus negativos, depois de devidamente separada nas diferentes áreas anatómicas, arquivada e numerada, tarefa que demora três a quatro horas.

A outra é colocada em formol e, passadas três semanas, é cortada, para se retirarem fragmentos microscópicos para análises e testes diagnósticos para se saber do que padeceu “exatamente em vida” o dador, realçou.

O tecido cerebral, em parafina ou congelação, dura décadas, podendo daqui a 30 anos estar-se a estudar um doente que morreu recentemente, adiantou Ricardo Taipa.

O neuropatologista garantiu que os familiares do dador, neurologista e médico de família são sempre avisados do “resultado final”, sendo que, em 80% dos casos, os diagnósticos em vida são concordantes com os de pós-morte.

Apesar dessa concordância, o responsável pela Unidade de Neuropatologia e diretor do Banco de Cérebros, Manuel Melo Pires, assumiu que, por vezes, há surpresas.

“Por exemplo, temos doentes que tinham Alzheimer e outra patologia associada, algo que só se descobre pós-morte, e, quando se fazem essas descobertas, toda a gente ganha, desde os clínicos, investigadores e famílias”, ressalvou.

Aberto a qualquer patologia neurológica “bem estudada” do ponto de vista clínico, nomeadamente Alzheimer, Parkinson ou Esclerose Lateral Amiotrófica, o banco recebe cérebros de dadores de Viana do Castelo a Coimbra, comentou.

Adiantando que o objetivo é alargar a área, Melo Pires lembrou que, caso a colheita não seja feita no Santo António, o transporte do cérebro deverá ser “rápido” e chegar ao banco em “duas a três horas no máximo”, um dos problemas em aumentar a abrangência territorial.

Mas, preferencialmente, a colheita deverá ser no banco, não tendo a família qualquer custo com o transporte do cadáver, sendo assegurado na totalidade pelo banco, reforçou.

“Felizmente, há funerárias que nem cobram esse trajeto”, confidenciou.

O neuropatologista entendeu que a decisão de doar o cérebro para investigação pelo doente em vida ou pela família é um “ato altruísta” e essencial para o conhecimento das doenças do sistema nervoso central, para o avanço da ciência e para a descoberta da cura.

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