O projeto "Pausa Ativa", uma iniciativa coordenada pelo Centro de Desporto da Universidade do Porto (CDUP), conseguiu que mais de 400 colaboradores da academia quebrassem as “barreiras do sedentarismo” e estabelecessem “uma maior afinidade” com os colegas de profissão.
Poderia ser uma manhã de trabalho, como tantas outras para as oito funcionárias do gabinete de recursos humanos da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), mas não é. Por aqui, já se habituaram à ideia de que às terças e quintas-feiras convém trazer no saco um par de sapatos mais confortável.
O relógio marca as 09:30 quando a técnica e instrutora do CDUP, Marisa, com a sua energia contagiante, rompe o gabinete e se apressa a fazer com que as funcionárias se preparem para mais uma sessão do "Pausa Ativa".
O dia ainda mal começou e é ao som de "Toda a Noite", de Toy, que arrancam os exercícios de alongamento. Com a voz de Marisa, mas também com a de Toy a incentivar "Solta-te…liberta-te", uns suaves "ais" vão começando a alastrar-se pelo pequeno gabinete.
"Isto assim está muito fácil", vai ripostando a instrutora aos queixumes das funcionárias, à medida em que se despacha a mudar de música e a distribuir bandas elásticas para a segunda ronda de exercícios.
Cada sessão do "Pausa Ativa" dura apenas 15 minutos, mas para as colaboradoras da FEUP "tem sido uma aventura", tanto que decidiram mandar estampar camisolas para, durante a sessão, estarem vestidas a rigor.
“Era importante quebrarmos o ritmo de trabalho e tudo isto tem sido muito bom. Passamos muito tempo na mesma posição e estes exercícios deixam-nos mais relaxadas”, garante, em declarações à Lusa, a chefe do gabinete de recursos humanos da FEUP, Sandrina Vieira.
Foi com o intuito de “quebrar as barreiras do sedentarismo”, e “melhorar a postura” dos colaboradores, que passam maioritariamente o dia sentados a uma secretária, que surgiu a iniciativa.
“Estávamo-nos a esquecer da outra parte da universidade, isto é, dos funcionários e colaboradores”, admite Hugo Rodrigues, coordenador e mentor do projeto, salvaguardando, contudo, que o objetivo do "Pausa Ativa" não é “fazer transpirar ninguém”.
Entre os exercícios de mobilidade articulada e os de postura, Marisa, à semelhança dos restantes instrutores, vai também dando “dicas” aos colaboradores de como superar algumas lesões.
Foram precisamente essas “dicas” que ajudaram Emília Vilas, uma das 14 funcionárias da unidade de contabilidade da FEUP, situada alguns pisos abaixo do anterior gabinete.
Emília, de 60 anos, teve uma rotura total da coifa dos rotadores [tendões que envolvem as articulações dos ombros] e, apesar da “fisioterapia ter ajudado”, foi o "Pausa Ativa" que lhe permitiu melhorar.
“Estes exercícios ajudaram-me muito a descomprimir. São 15 minutos de pausa, mas de uma pausa que nos ajuda a recuperar quase o dia inteiro, seja em termos físicos, psicológicos e sociais”, confessa a colaboradora, ainda a recuperar o fôlego.
O "Pausa Ativa", que arrancou há cerca de um ano, não visa apenas quebrar as barreiras do sedentarismo, mas também quebrar a “falta de convívio que existe nos próprios gabinetes”, explica Hugo Rodrigues, à medida que Marisa se vai despedindo das colaboradoras, com a promessa de que a próxima sessão vai ser “mais puxada”.
“As relações pessoais mudaram drasticamente o que é uma vantagem muito grande a nível laboral”, afirma o mentor do projeto.
Se pelos corredores da FEUP, o "Pausa Ativa" apenas se faz sentir nos gabinetes, na Reitoria da Universidade do Porto já não é tanto assim. Uma pequena placa à entrada do gabinete de relações internacionais dá o alerta: “Atenção, Atenção…Pausa Ativa em execução”.
Dentro do gabinete, ainda mais estreito do que os da FEUP, os colaboradores vão se posicionando atrás das secretárias. Às quatro funcionárias que ali trabalham diariamente, juntam-se três colegas do departamento de proteção de dados e a pró-reitora da UP responsável pelo pelouro do Desporto.
Aqui, apesar do grau de complexidade e dificuldade dos exercícios aumentar, não se ouvem grandes queixumes, mas sim algumas piadas que vão fazendo descomprimir a tensão.
“Flexibilidade tenho a da minha avó”, brinca Joel Alves, de 24 anos, enquanto vai alongando e tentando chegar com os braços à ponta dos pés. Todos riem.
“É uma forma interessante de desanuviar a mente e de interagirmos com colegas de outros serviços, porque interagimos a nível de trabalho, mas não temos grande interação a nível pessoal”, garante o jovem, já depois de ter terminado o exercício.
À Lusa, também a pró-reitora da UP responsável pelo pelouro do Desporto, Joana Carvalho, deixa uma garantia: “O ‘Pausa Ativa’ vai-se alargar e tentar abranger os estudantes”.
“Esse vai ser o meu próximo desafio. Estender o projeto aos estudantes. Porque não fazer uma quebra naquelas aulas demoradas, de duas e três horas, em que os estudantes estão sentados?”, reitera.
Além da FEUP e da Reitoria da Universidade do Porto, mais sete faculdades da academia e a UPTEC (Parque da Ciência e da Tecnologia da Universidade do Porto) juntaram-se a esta iniciativa que já conseguiu “quebrar as barreiras do sedentarismo e da socialização” de mais de 400 colaboradores.