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Covid-19: Leste da Europa enfrenta segunda vaga violenta após evitar o pior na primeira

Lusa
25-09-2020 16:33h

Os países da Europa central e de leste registaram muito menos casos de infeções por covid-19 na primeira vaga da pandemia, mas o relaxamento das restritivas medidas que impuseram na primavera está a resultar numa segunda vaga mais violenta.

O caso mais emblemático é o da República Checa, que já foi considerado um dos países mais bem-sucedidos da Europa no combate à pandemia, mas desde o início deste mês é dos que regista uma das taxas de infeção mais altas da Europa relativamente à população, de acordo com o Centro Europeu para Prevenção e Controlo de Doenças.

No dia 08 deste mês, a República Checa bateu um recorde, com 1.164 novas infeções em 24 horas num país com 10,7 milhões de pessoas.

As autoridades checas atribuíram a situação a um aumento acentuado do número de testes realizados e sublinharam que a maioria dos novos casos são ligeiros e entre jovens saudáveis, adiantando ainda que cerca de 168 casos aconteceram devido a uma festa numa discoteca de Praga, em julho.

Mas a Organização Mundial de Saúde (OMS) mostrou-se, de imediato, preocupada e lembrou que o país relaxou várias das restrições, numa altura em que estava a começar o novo ano escolar e o clima ficava mais frio.

O primeiro-ministro checo, Andrej Babiš, reagiu furiosamente, chegando mesmo a mandar calar a OMS, lembrando num ‘tweet’ que, na fase inicial da pandemia, a organização nem sequer reconheceu a pandemia e não recomendou o uso de máscaras.

A obrigação do uso de máscara na República Checa – adotada em março como parte do confinamento imposto pelo Governo e que implicava a sua utilização mesmo em espaços abertos – foi, na altura, saudada como um fator importante para o sucesso inicial no controlo do coronavírus.

Mas as regras foram sendo gradualmente relaxadas à medida que o número de casos diminuía, antes de serem suspensas quase inteiramente no final de junho, com a chegada do verão e a necessidade de atrair turistas.

A “morte” da situação controlada foi marcada por um jantar ao ar livre simbolicamente anunciado como uma “despedida da covid”, onde estiveram presentes 2.000 pessoas (sem distanciamento social) na Ponte Carlos, em Praga.

O número de mortos no país é relativamente modesto, com menos de 570 num total de 58.380 casos desde o início da pandemia, mas as estatísticas mais recentes parecem confirmar as suspeitas de que as comemorações foram prematuras.

Na quarta-feira da semana passada, a República Checa foi notícia por ultrapassar, pela primeira vez, os dois mil casos num só dia, mas no dia seguinte o número subia para três mil.

Na sexta-feira voltaram as restrições. O país voltou a impor o uso de máscara em lojas, centros comerciais, transportes públicos e edifícios públicos. Bares e restaurantes têm de fechar entre as 00:00 e as 06:00 e nas escolas, todos os alunos a partir do 5.º ano terão de usar máscara durante as aulas.

Embora a República Checa seja exemplo por ter passado de um extremo para o outro, não é o país do leste europeu com pior situação.

Segundo o Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças, a Roménia tem a taxa de mortalidade de covid-19 mais alta da União Europeia, de 2,8 por cada 100.000 cidadãos.

Na semana passada, o país atingiu o recorde de 1.713 novos casos de covid-19 num período de 24 horas, o número mais alto desde o início da pandemia, já que a taxa de testes permaneceu constante nos últimos dois meses.

No caso da Roménia, a situação tem sido ligada ao facto de o país estar a viver uma campanha eleitoral – tem eleições locais no domingo - e ter relaxado as restrições para agradar à população.

“Vai registar-se um aumento no número de casos após as eleições locais e algumas medidas de confinamento poderão ter se der reinstauradas”, afirmou o especialista em saúde pública Răzvan Cherecheș ao jornal online euobserver.

“Acho que as autoridades tomaram algumas medidas populistas para manter o apoio” com vista às eleições, considerou.

A Roménia levantou, este mês, as restrições aos restaurantes e aumentou o número possível de participantes em eventos privados internos e exteriores, para 50 e 100 pessoas, respetivamente.

O Governo rejeita, no entanto, que as motivações tenham sido políticas, tendo o secretário de Estado da Saúde Dragos Garofil garantido que as autoridades planearam as medidas de relaxamento muito antes da campanha eleitoral.

Situada a sul da Roménia, a Bulgária também tem visto o número de casos de covid-19 aumentar e, embora o número de mortes tenha diminuído nos últimos dias, após atingir um pico no início de setembro, os valores ainda estão acima dos níveis da primavera.

Os profissionais de saúde da Bulgária confirmaram hoje terem registado 290 casos de coronavírus nas últimas 24 horas, mais 130 casos do que na quinta-feira, tendo o número total de casos no país chegado aos 19.573, o maior nos últimos dois meses, segundo o portal do Ministério da Saúde búlgaro.

Nas últimas 24 horas, seis doentes de covid-19 morreram, somando agora 785 mortos.

As razões para este aumento devem-se sobretudo, segundo o Governo, à falta de pessoal médico nos hospitais, já que as restrições se mantêm idênticas desde o dia 13 de março, quando foi declarado o estado de emergência no país.

Dos países do chamado grupo de Visegrado - Hungria, República Checa, Polónia e Eslováquia -, a Hungria foi provavelmente o que mais alarde fez do baixo número de infetados durante a primeira vaga de covid-19.

Agora, todos lutam para conter uma segunda leva, que parece destinada a ser pior do que a primeira, mas a Hungria lidera o regresso às restrições.

No dia 01 de setembro, o país decidiu fechar as suas fronteiras aos estrangeiros, com exceção das pessoas que chegavam da Polónia, República Checa e Eslováquia.

Depois de um verão em que o número de novos casos diários esteve sempre abaixo dos 50, a Hungria registou um rápido aumento nas taxas de infeções diárias e o Governo não esperou para ver a evolução.

O primeiro-ministro, Viktor Orbán, foi o primeiro a admitir que “uma segunda vaga estava a bater à porta” e afirmou que a prioridade passava a ser evitar a importação de novos casos.

O encerramento das fronteiras foi criticado por alguns líderes europeus, que consideraram as medidas demasiado amplas para serem eficazes e irritou Bruxelas, que acusou Orbán de estar a infringir as regras da zona Schengen. Além disso, as medidas também desanimaram muitas empresas húngaras do setor de turismo.

Na Polónia, os números diários de novas infeções têm batido recordes nos últimos dias, mas a propagação da covid-19 no país continua a ser considerada “estável”.

O Governo considera que não há grandes surtos e os que há são resultado do aumento dos contactos interpessoais e o aumento de restrições tem sido combatido por algumas manifestações que contestam sobretudo a obrigatoriedade do uso de máscara e as limitações em eventos particulares e públicos.

A Eslováquia - que foi, em conjunto com a República Checa, o primeiro país a impor o uso de máscaras - voltou hoje a registar um recorde do número de novos casos de infeção, com mais 419 pessoas doentes, embora continue a ser o país europeu com menos mortes causadas pelo coronavírus: 41 óbitos num total de 8.048 casos.

A pandemia de covid-19 já provocou pelo menos 984.068 mortos e cerca de 32,3 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

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