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Covid-19: Regiões em conflito do leste da Ucrânia mais vulneráveis ao contágio – MSF

LUSA
08-05-2020 18:27h

As populações do leste da Ucrânia, a única região da Europa onde decorre um conflito armado, enfrentam dificuldades acrescidas na prevenção da pandemia da covid-19, indica hoje em comunicado a organização não-governamental (ONG) Médicos Sem Fronteiras (MSF).

Neste país do leste europeu, o frágil sistema de saúde enfrenta uma enorme pressão, em particular na região do Donbass, onde os conflitos esporádicos impedem o acesso de parte da população aos cuidados médicos, e quando a pandemia de covid-19 ameaça agravar a capacidade de resposta dos serviços.

“A Ucrânia também enfrenta escassez de pessoal, com cerca de 25% dos seus médicos atualmente em idade de reforma. A falta de pessoal médico e de equipamentos de proteção compromete a limitada capacidade da Ucrânia na resposta à pandemia da covid-19”, sublinha o texto.

“É ainda preocupante o facto de quase 20% dos ucranianos com infeções confirmadas seja pessoal dos serviços de saúde; 19 deles morreram e 2.000 permanecem em convalescença”, assinalam os MSF.

Para além desde cenário, as elevadas taxas de doenças crónicas tornam o leste da Ucrânia particularmente vulnerável à covid-19, alerta a MSF, que atualmente apoia o ministério da Saúde na resposta à pandemia nas regiões de Donetsk e Zhytomyr para reduzir a pressão sobre as poucas estruturas de saúde abertas nestas regiões.

“Até ao momento, cerca de 170 membros dos serviços de saúde receberam treino sobre a correta utilização de equipamento de proteção, prevenção e controlo da infeção, e na gestão do fluxo de pacientes através de triagem, exames e isolamento. Está ainda disponível apoio psicológico para o pessoal médico, doentes e comunidade num contexto de stress cumulativo de conflito e confinamento”, precisa o comunicado.

“Alguns dos doentes que visitámos para fornecer apoio ao domicílio escutam diariamente as hostilidades, e vivem em casas danificadas… lembro-me de uma jovem família com quatro filhos numa casa onde a porta de entrada e as janelas não fecham”, relatou Olga Taushan, uma médica da MFS.

A equipa destacada na região visitou diversos estabelecimentos destinados aos casos de covid-19 na região de Zhytomyr, assinalou a “motivação” do pessoal médico e auxiliar, mas confirmou a escassez de preparação e de meios.

“Por exemplo, se não sabem colocar e retirar o seu equipamento de proteção, ou efetuar corretamente a triagem, testes e organizar as áreas de isolamento, podem ficar infetados, infetar os outros e infetar os doentes em outras áreas do hospital”, indicou Marve Duka, uma médica envolvida nesta iniciativa.

A MSF recorda que a Ucrânia se inclui entre os países com as taxas mais elevadas de tuberculose, hepatite C, Sida (VHI), alcoolismo, obesidade, problemas cardiovasculares e diabetes.

“Constituem fatores que parecem aumentar os riscos de desenvolvimento de sintomas severos para as pessoas que contraem a covid-19. Todos os doentes da MSF na Ucrânia estão num destes grupos”, acrescenta-se no comunicado.

Desta forma, a organização médica humanitária internacional indica como prioridade o prosseguimento do apoio aos seus doentes.

“Estamos a assegurar o fornecimento de medicamentos no decurso do anunciado período de quarentena, partilhando informação sobre a forma de prevenir a covid-19 e fornecer apoio psicológico aos nossos doentes, na maioria dos casos por telefone”, prossegue o comunicado.

“Estamos a tratar quase 170 doentes com medicamentos multirresistentes à tuberculose e continuamos a envolver cerca de quatro doentes por semana num programa de tratamentos, como sucedia antes da pandemia”, adianta.

Na sequência da anexação da península da Crimeia pela Rússia em março de 2014, não reconhecida pelas instâncias internacionais, iniciaram-se os confrontos nas regiões de Lugansk e Donetsk (leste da Ucrânia, região do Donbass), atualmente controladas pelas forças separatistas pró-russas e particularmente flageladas no decurso do conflito, ainda sem solução definitiva.

O balanço de cinco anos de guerra eleva-se a cerca de 13.000 mortos de dezenas de milhares de deslocados.

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