Os responsáveis dos jesuítas europeus enviaram hoje uma mensagem às instituições da União Europeia (UE) a pedir que promovam uma "verdadeira solidariedade ética e social" na sequência da pandemia de civid-19 “que abalou todo o continente”.
Na missiva, enviada à agência Lusa, a designada “maior ordem religiosa masculina da Igreja Católica” faz este apelo na sequência do 75.º aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial e 70 anos após a declaração de Schumann (que propunha a criação da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, antecessora da Comunidade Europeia), e pede à UE que “trabalhe arduamente para superar a ameaça existencial que representa a atual falta de apetência pela solidariedade internacional".
Na missiva, o provincial dos Jesuítas em Portugal, José Frazão Correia, um dos subscritores da declaração, explica que esta tomada de posição nasce da "consciência das graves consequências sociais e humanas da presente pandemia a nível europeu e mundial e da necessidade de se encontrarem respostas solidárias que evitem o isolamento dos países, o crescimento de visões individualistas e a desatenção aos mais vulneráveis, entre eles os migrantes e refugiados".
O jesuíta português adianta também que o texto da declaração resulta dos contactos regulares entre os provinciais dos jesuítas europeus, coordenados pelo presidente da Conferência Europeia de Provinciais, o belga Franck Janin, tendo sido trabalhado na última semana por todos os subscritores.
A declaração dos jesuítas salienta que a pandemia do novo coronavírus “fortaleceu a consciência de todos os povos da Europa de que estão profundamente interligados”.
“Paradoxalmente, é na altura em que as igrejas estão vazias que as pessoas redescobrem a mensagem cristã da solidariedade. Esta crescente consciência deve servir de motor de mudança à medida que as pessoas fortalecem o seu compromisso de servir o bem comum”, afirma.
No documento, os jesuítas apelam para um repensar do atual modelo de globalização sublinhando que "não se pode viver de forma saudável num planeta doente", aludindo aos ensinamentos do Papa Francisco, sobre "ecologia integral", e “lamentam a relutância inicial da União Europeia em ajudar os países do sul que lutam contra o vírus”.
"Felizmente, por agora, a UE encontrou o caminho de volta à solidariedade prática. A médio prazo, o desafio consistirá em enfrentar as consequências económicas e sociais da pandemia. Inevitavelmente, isso implicará alguma redistribuição da riqueza dos países mais ricos com os países mais pobres." Em seguida, os jesuítas europeus destacam a situação dos refugiados e requerentes de asilo em toda a Europa”.
Segundo os jesuítas, o apelo à solidariedade "deve também estender-se urgentemente a eles", especialmente os que estão confinados em campos da UE”.
Os jesuítas citam o Papa Francisco, que diz que "a União Europeia enfrenta atualmente um desafio epocal, do qual dependerá não só o seu futuro, mas o de todo o mundo". E sublinham que o principal desafio consiste em cultivar uma solidariedade europeia que prefigure a solidariedade global, onde “o sul também tem um apelo à solidariedade europeia, nomeadamente envolvendo "a anulação da dívida dos países mais pobres, mais ajuda humanitária e cooperação para o desenvolvimento, com as despesas militares redirecionadas para a saúde e os serviços sociais".
A mensagem termina com a esperança de que a crise possa ser uma "oportunidade espiritual de conversão, uma oportunidade que deve ser aproveitada para provocar uma mudança radical, para melhor”.
A Conferência Jesuíta dos Provinciais Europeus é composta por 20 unidades chamadas províncias ou regiões que se estendem pelos países da União Europeia, mas mais amplamente por todo o continente europeu e também pelo próximo oriente, o que representa cerca de 4.000 Jesuítas e centenas de instituições diferentes.
A nível global, segundo um balanço da agência de notícias francesa AFP, a pandemia de covid-19 já provocou cerca de 269 mil mortos e infetou mais de 3,8 milhões de pessoas em 195 países e territórios.
Mais de 1,2 milhões de doentes foram considerados curados.
Em Portugal, morreram 1.114 pessoas das 27.268 confirmadas como infetadas, e há 2.422 casos recuperados, de acordo com a Direção-Geral da Saúde.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.