O governo britânico está a estudar formas "criativas” de aliviar as medidas de distanciamento social impostas pela pandemia de covid-19 no Reino Unido, adiantou hoje o primeiro-ministro, Boris Johnson, que antecipou um levantamento gradual do confinamento.
“Se queremos recuperar com a força que eu acredito que podemos não podemos ter um segundo pico, porque isso causaria danos duradouros na economia. É por isso que temos de calibrar as nossas medidas com cuidado, desbloqueando a nossa economia gradualmente mas também encontrando formas de continuar a suprimir a doença”, afirmou hoje na conferência de imprensa diária do governo sobre a crise.
Johnson disse que poderão ser necessárias "novas formas, mais imaginativas, de suprimir a doença”, mas não adiantou pormenores.
O Partido Trabalhista, principal partido da oposição, tem estado a fazer pressão sobre o governo para publicar o plano para o final do confinamento, de forma a ajudar empresas, escolas e cidadãos a prepararem-se.
Numa entrevista hoje com a televisão ITV, o líder trabalhista, Keir Starmer, reiterou o apoio ao confinamento, mas defendeu a necessidade de transparência sobre a próxima fase.
“O governo foi lento no confinamento, lento nos testes, lento no equipamento de proteção, e agora pode ser lento na nossa estratégia de saída”, avisou.
O governo britânico tem previsto receber nova informação do grupo de cientistas e médicos que formam o SAGE [Grupo de Aconselhamento Científico para Emergências] na próxima semana para decidir quando pode aliviar o regime de confinamento, decretado a 23 de março para travar a propagação do novo coronavírus.
Só nessa altura é que pretende divulgar um plano "abrangente” para explicar como vai tentar conseguir por a economia a mexer, mandar as crianças de volta à escola, como é que se vai poder viajar para o trabalho e como é que se pode tornar mais segura a vida no local de trabalho.
Boris Johnson reiterou a necessidade de serem preenchidos os critérios estabelecidos pelo governo, nomeadamente que os serviços de saúde não ficam sobrecarregados, que a mortalidade continua a descer, que são resolvidos os problemas com a falta de testes e equipamento de proteção e que não existe o risco de um novo pico.
Um ponto “crucial", salientou, vai ser manter a taxa de infeção, designada por “R", abaixo de 1 (um), tendo o governo criado um vídeo de explicação sobre o termo e a necessidade de o “manter o mais baixo possível”.
A taxa de infeção representa a média do número de pessoas que cada uma pessoa infetada contagia e quando sobe acima de 1 (um) pode provocar o crescimento exponencial do número de casos e a consequente sobrecarga dos serviços de saúde.
Estima-se que o “R" esteja entre 0,6 e 0,9 no Reino Unido, ou mais baixo em algumas regiões, como em Londres, mas em março terá chegado a 3 (três), revelou o principal conselheiro científico do governo, Patrick Vallance.
“Manter o ‘R’ em baixo vai ser absolutamente crucial para a nossa recuperação, manter a taxa de reprodução [do vírus], e só podemos fazê-lo através da nossa disciplina coletiva e trabalho em conjunto”, exortou Boris Johnson.
De acordo com os dados divulgados hoje, o Reino Unido registou mais 674 mortes de pessoas infetadas nas últimas 24 horas, aumentando para 26.711 o total de óbitos derivados da pandemia covid-19, balanço passou a incluir as mortes fora dos hospitais.
A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 227 mil mortos e infetou quase 3,2 milhões de pessoas em 193 países e territórios.
Cerca de 908 mil doentes foram considerados curados.
Em Portugal, morreram 989 pessoas das 25.045 confirmadas como infetadas, e há 1.519 casos recuperados, de acordo com a Direção-Geral da Saúde.