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Covid-19: Universitários nos EUA recusam pagar propinas e avançam para os tribunais

LUSA
30-04-2020 19:12h

Estudantes universitários nos Estados Unidos recusam pagar prestações das propinas durante o período de encerramento das escolas devido à pandemia de covid-19 e avançam com ações judiciais conjuntas contra as instituições de ensino que não reembolsam o pagamento.

São várias as universidades norte-americanas que, encerradas desde meados de março e com propinas de dezenas de milhares de dólares por ano, estão a ser acusadas de “se aproveitarem” do novo coronavírus, por cobrarem os preços normais aos estudantes enquanto os serviços educacionais foram suspensos, as instalações estão fechadas e os gastos com a manutenção são menores.

As universidades do Estado de Michigan, Purdue (em Indiana) e Liberty (na Virgínia) estão a ser processadas em ações judiciais conjuntas dos estudantes.

O Conselho de Regentes de Arizona, supervisor de todas as instituições de ensino do Estado, é alvo de um processo iniciado por um conjunto de pais e um processo dos estudantes está a ser aplicado ao Conselho de Regentes do Colorado.

Um estudante da universidade de Miami (em Ohio) e outro da universidade de Drexel (na Pensilvânia) avançaram com ações judiciais individuais contra estas instituições.

Todos os processos foram iniciados por motivos semelhantes: as instituições continuam a cobrar os mesmos preços em propinas, mensalidades de parques de estacionamento, dormitórios ou acesso aos espaços e centros para estudantes, entre outras taxas, sem que os estudantes possam aceder à educação, confinados e limitados a aulas virtuais.

Os processos legais exigem o reembolso do dinheiro.

Julia Attie é estudante na Universidade privada de Chicago e coorganizadora de uma campanha do grupo UChicago For Fair Tuition, que exige o reembolso ou redução de 50% do valor das propinas do primeiro trimestre para todos os estudantes da universidade.

A Universidade de Chicago integra as 10 melhores universidades do mundo em vários ‘rankings’, e é uma das mais caras do país, podendo a propina chegar aos 80 mil dólares (73 mil euros) anuais por estudante, segundo Julia Attie, que explica que se trata de um sistema de carga trimestral.

A estudante, que está a frequentar cursos de duas especialidades (‘double major’), História e Artes Visuais, paga 20 mil dólares por cada trimestre.

“As propinas eram devidas até 29 de abril, mas atualmente temos centenas de estudantes, inclusive eu própria, comprometidos a não pagar as propinas deste trimestre, ao lado dos muitos estudantes que não vão conseguir pagar, devido à crise financeira”, disse Julia Attie em entrevista ao canal ABC.

O grupo UChicago For Fair Tuition realizou uma manifestação na última semana, a 24 de abril, dentro de viaturas automóveis, defronte da residência do reitor da universidade, Robert Zimmer.

“A educação que estamos a receber é muito diferente daquela que as universidades publicitaram” é um dos protestos mais ouvidos da parte de estudantes de todo o país.

Julia Attie acusa também que os recursos da universidade disponíveis na altura da pandemia foram muito reduzidos e tornaram-se “inadequados”.

“Não vou ao ‘campus’, não tenho acesso aos recursos da universidade que tinha normalmente, como a biblioteca. Sou estudante de História e tenho trabalhos a entregar, é um enorme inconveniente. O meu outro ‘major’ é em Artes Visuais e não tenho acesso a serviços de impressão ou ao estúdio”, queixou-se.

Segundo a coorganizadora, a campanha “está disposta a reter as propinas e a partir para novos protestos como uma ação legal coletiva, até conseguir negociação [com a universidade] e atendimento às solicitações”.

“Trata-se de ouvir muitos colegas e participantes na campanha dizendo que não conseguem pagar as propinas, ao mesmo tempo que a administração ou serviços de ajuda financeira disseram que não há nada que possam fazer. Achamos que não é correto da parte de uma instituição multimilionária”, explicou Julia Attie.

Por outro lado, o grupo presta atenção ao caso de estudantes internacionais que estão a enfrentar dificuldades para pagar as propinas, devido à desvalorização monetária de várias moedas: “Enfrentam decisões de pedir um empréstimo bancário ou desistir da universidade”, disse a estudante.

A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 227 mil mortos e infetou quase 3,2 milhões de pessoas em 193 países e territórios.

Os Estados Unidos são o país com mais mortos (60.999) e mais casos de infeção confirmados (mais de um milhão).

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

Para combater a pandemia, os governos mandaram para casa 4,5 mil milhões de pessoas (mais de metade da população do planeta), encerraram o comércio não essencial e reduziram drasticamente o tráfego aéreo, paralisando setores inteiros da economia mundial.

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