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Covid-19: Cabo-verdianos aliviados com fim do confinamento prometem cumprir medidas

LUSA
27-04-2020 14:44h

Cabo-verdianos das ilhas sem casos de infeção pelo novo coronavírus mostraram-se hoje aliviados por deixarem de estar obrigados ao confinamento domiciliar, determinado pelo estado de emergência, mas prometeram continuar a cumprir as restantes medidas de combate à doença.

“É como uma pomba sair de sua gaiola”, descreveu à Lusa Mitú Monteiro, praticante de kitesurf e empresário natural da ilha do Sal, uma das seis habitadas do arquipélago cabo-verdiano sem casos de covid-19, a par de Santo Antão, São Nicolau, Maio, Fogo e Brava. 

O primeiro período de estado de emergência começou em 29 de março e foi prorrogado até 26 de abril, totalizando quase um mês de confinamento obrigatório. 

Mas para Mitú Monteiro foram mais de dois meses de confinamento, explicando que aproveitou esse tempo em casa para recuperar de uma lesão. 

“É uma sensação muito boa. Agora é aproveitar”, continuou o ex-campeão do mundo de kitesurf, revelando que as primeiras coisas que fez foi visitar familiares e amigos e algumas compras. 

Também disse estar “muito aliviado” porque estava sempre preocupado para saber se havia pessoas contaminadas na ilha. Agora, espera que tudo termine o mais rápido possível para o regresso à normalidade. 

Além de desportista, Mitú Monteiro é empresário, com uma loja de materiais desportivos, bar-restaurante e um centro náutico na ilha do Sal, a mais turística do arquipélago cabo-verdiano.

Entretanto, mesmo com o fim do estado de emergência, adiantou que os estabelecimentos vão continuar fechados, já que dependem do turismo, e tudo foi cancelado por causa da covid-19. 

“Neste momento, é fazer coisas diferentes, como manutenção, ir à pesca, treinar”, indicou o desportista internacional cabo-verdiano, dando conta de que os negócios estão parados na ilha do Sal e que as pessoas estão com receio de gastar algum dinheiro, tendo em conta a situação atual. 

Quem também viu a sua atividade parar foi Théo Montrond, guia turístico em Chã das Caldeiras, na ilha do Fogo, onde se situa o vulcão com o mesmo nome, o ponto mais alto de Cabo Verde, com 2.829 metros de altitude. 

Em declarações à Lusa, Théo Montrond contou que a sua situação continuou a mesma por duas razões: uma porque depende do turismo e outra porque quem vive em Chã das Caldeiras “está sempre em quarentena”. 

De qualquer forma, está “aliviado” pelo abrandamento das restrições, mas lamentou o facto de até agora não ter tido acesso a nenhuma ajuda das autoridades cabo-verdianas, no âmbito dos apoios aos trabalhadores informais. 

“Espero que as coisas venham a melhorar e que o Governo encontre uma solução para os guias. Somos um ponto muito importante para o turismo”, apelou o trabalhador de Chã das Caldeiras, um dos principais pontos turísticos de Cabo Verde. 

Outra ilha que não registou até ao momento qualquer caso da doença é Santo Antão, a mais a norte de Cabo Verde, onde Fredy Monteiro exerce a sua profissão de condutor, sobretudo na rota Janela–Porto Novo. 

Todo esse serviço esteve parado durante os últimos dias, mas o jovem explicou que deverá manter-se igual, já que todos os que se aventuram até ao Porto Novo dependem das ligações com a ilha de São Vicente, que regista um caso positivo, e as ligações marítimas continuarão interditas.  

E como provavelmente não vai fazer o transporte de passageiros, Fredy Monteiro vai agora começar com as suas férias.

“Pelo menos já podes dar umas voltas, passear com a família, visitar amigos. Mesmo apenas dentro de Santo Antão, já te permite muitas coisas”, afirmou o condutor profissional. 

Todos os entrevistados da Lusa garantiram que vão continuar a cumprir as restantes medidas decretadas para evitar a propagação do novo coronavírus.

“Não podemos baixar a guarda. Cada um tem de ser responsável”, pediu Mitú Monteiro. 

Com o fim do estado de emergência, as empresas dessas ilhas podem reabrir, mas algumas restrições vão permanecer em vigor, como a interdição das ligações aéreas e marítimas internacionais e interilhas, bem como da realização de eventos públicos, em espaços abertos ou fechados, “independentemente da sua natureza”. 

Os restaurantes podem reabrir portas, mas o período de funcionamento está limitado até às 21:00, com proibição total do consumo em espaços abertos e “devendo a lotação dos mesmos ser reduzida em 1/3 da sua capacidade”. 

Mantém-se interdito o funcionamento de todos os estabelecimentos de diversão noturna, de ginásios, academias, escolas de artes marciais e similares, permanecendo restritas as visitas a lares e centros que alberguem pessoas de terceira idade, a hospitais e outros estabelecimentos de saúde e a estabelecimentos prisionais. 

Estas medidas serão “levantadas progressivamente, de acordo com a evolução da situação epidemiológica em cada ilha”, estabeleceu o decreto-lei do Governo cabo-verdiano de 17 de abril. 

Nas restantes três ilhas habitadas, que registam 109 casos confirmados de covid-19, o estado de emergência vai continuar pelo menos até às 24:00 de 02 de maio.

Os 109 casos acumulados de covid-19 são distribuídos pelas ilhas de Santiago (55), Boa Vista (53) e São Vicente (01). 

A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 206 mil mortos e infetou quase três milhões de pessoas em 193 países e territórios. 

Perto de 810 mil doentes foram considerados curados.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

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