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Covid-19: Médicos paquistaneses contra a reabertura de mesquitas ordenada pelo Governo

LUSA
25-04-2020 16:29h

A Associação Islâmica de Médicos do Paquistão (PIMA) alertou hoje que as mesquitas estão a tornar-se na principal fonte de contágio da covid-19, depois do Governo, pressionando pelos clérigos, ter ordenado a reabertura para o Ramadão.

“As mesquitas estão a tornar-se num dos principais focos de transmissão do vírus”, afirmou hoje o presidente da PIMA, Iftikhar Burney, em conferência de imprensa.

O médico vincou que o fim da crise sanitária no país ainda está longe de acontecer, exemplificando com a duplicação de novos casos registados nos últimos seis dias, registando agora 12.219 contágios e 256 mortes, até hoje.

Burney quis também desmentir os “mitos” que circulam no país e sustentam que o vírus afeta menos a nação asiática do que outros países devido à juventude da população ou ao calor.

“Pensamos que Deus nos ama e por isso as epidemias não nos afetarão. No entanto, essas falácias devem ser rejeitadas e a gravidade da doença não deve ser subestimada”, sublinhou o médico.

Perante a pressão dos clérigos, o primeiro-ministro paquistanês, Imran Khan, decidiu levantar a proibição das rezas coletivas em templos religiosos que durava há semanas, apesar da manutenção do confinamento do país, com as escolas e a maioria do comércio fechado para evitar a propagação do novo coronavírus.

A abertura dos centros religiosos está condicionada ao cumprimento de uma série de medidas de segurança, tais como a manutenção de um metro de distância entre fiéis, que devem levar os seus próprios tapetes de oração e, posteriormente, lavá-los em casa.

A PIMA não é a única organização sanitária que se opõe à medida, já que a província de Singh desafiou a decisão do Governo e anunciou que vai manter as mesquitas encerradas durante o Ramadão.

“Não faz qualquer sentido abrir as mesquitas. Peço às pessoas que rezem em casa e celebrem o fim do jejum diário em casa”, disse na sexta-feira o secretário-geral da Associação de Médicos do Paquistão, Qaiser Sajjad, à agência espanhola Efe.

No Paquistão os clérigos exercem uma grande influência sobre a população e dependem também das doações dos fiéis.

O Ramadão é o mês sagrado para os muçulmanos porque foi durante este período que o profeta Maomé recebeu as primeiras revelações do Alcorão. O jejum é um dos pilares do Islão e é obrigatório. Todos os muçulmanos adultos e saudáveis devem fazê-lo, mas crianças doentes e idosos estão isentos.

Assim, este ano, o Ramadão, sinónimo de período religioso de partilha, generosidade e encontro familiar, promete ser sombrio para as centenas de milhares de muçulmanos na Ásia, Oriente Médio, Norte da África e também na Europa.

As restrições impostas na maioria dos países, incluindo Portugal, obrigaram as mesquitas a permanecerem fechadas e o iftar, a refeição diária de quebrar o jejum, um momento geralmente amigável ou festivo, não pode ser partilhado como é habitual na família ou entre vizinhos.

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