A Resgate – Associação de Nadadores Salvadores do Litoral Alentejano, mostra-se preocupada com a potencial escassez destes profissionais para suprir as necessidades das praias portuguesas, quando em 2020, foram formados apenas 138 socorristas aquáticos em comparação com os 1800 a 2000 em épocas anteriores.
Os números do Instituto de Socorros a Náufragos (ISN), apresentados no 5º Congresso Nacional de Salvamento e Prevenção do Afogamento, realizado a 4 de abril de 2020, apontam para 5801 profissionais certificados, no entanto, em 2020, foram formados apenas 138. A Federação Portuguesa de Nadadores Salvadores (FEPONS) refere que em comparação à época balnear anterior só 49,2% volta a trabalhar. De sublinhar que grande parte destes socorristas aquáticos são alunos do 11º e 12º anos e vão estar ocupados na preparação para os exames nacionais.
Face a estes números, António Mestre, nadador-salvador coordenador na Resgate, associação responsável pelas praias do litoral alentejano, sublinha que há contactos de nadadores-salvadores a pedir informações, no entanto, as exigências salariais aumentam em virtude da carência destes profissionais. Há candidatos a pedir 1500€ mensais, numa altura em que os concessionários estão fragilizados, financeiramente, por conta da atual pandemia de covid-19. António Mestre pede “bom senso”.
Segundo o nadador-salvador coordenador já em anos anteriores esta escassez se fazia sentir, altura em que a equipa de nadadores-salvadores da Resgate era composta, em cerca de 85%, por cidadãos brasileiros.
À Lusa, Alexandre Tadeia, presidente da Federação Portuguesa de Nadadores-Salvadores (FEPONS) também alertou para a “enorme falta de nadadores-salvadores durante a época balnear“ referindo que a situação agora só pode ser resolvida “pela parte política”, com incentivos fiscais e sociais que incentivem estes profissionais a trabalhar durante o verão.
“Nós fizemos parte da solução, porque logo em março enviámos ao Governo e aos grupos parlamentares cinco propostas para que esta situação possa ser amenizada, porque senão vai haver um enorme ‘stress’ por parte dos concessionários que vão querer abrir e não podem porque não vão ter nadadores-salvadores”, apontou.
Nas propostas, a federação defendeu que os nadadores-salvadores devem ter benefícios fiscais, como a isenção de IVA ou uma redução nas propinas escolares, dado que grande parte destes profissionais ainda são estudantes.
“Nós não estamos a inventar nada, isto é o que os americanos fazem. Eles também têm sazonalidade de nadadores-salvadores e dão enormes benefícios fiscais e sociais para incentivar as pessoas a trabalhar no verão. Por exemplo, têm professores e várias profissões que trabalham como nadadores-salvadores devido aos fortes incentivos”, indicou.
Além disso, considera que deveria haver um regime especial de contratação sazonal durante a época balnear, que “implique menos custos às entidades empregadoras”, e uma alteração dos dispositivos de segurança, com “ligeiras reduções no número de nadadores-salvadores”, porque “mais vale alguma segurança, do que nenhuma”.
De acordo com Alexandre Tadeia, a Comissão de Defesa Nacional e alguns grupos parlamentares “mostraram interesse de reunião”, mas ainda não se concretizou nem há datas agendadas.
Esta é uma preocupação que surge numa altura em que a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) anunciou que o arranque da época balnear está a ser planeado para o próximo dia 1 de junho.
O S+ tentou falar com a Direção-Geral da Autoridade Marítima (DGAM), à qual o ISN pertence, no entanto, não obteve resposta até à publicação deste artigo.