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Covid-19: FMI aponta recessão de 5,5% em Cabo Verde e défice de 14,7% mas crescimento de 5% em 2021

LUSA
24-04-2020 16:20h

O FMI espera uma recessão de 5,5% e um défice de 14,7% do PIB para Cabo Verde em 2020, devido à pandemia de covid-19, mas prevê uma retoma em 2021, com um crescimento económico de 5%.

As previsões constam de um relatório sobre o aval do Fundo Monetário Internacional (FMI) ao pedido de financiamento de 32,3 milhões de dólares (30 milhões de euros), apresentado pelo Governo cabo-verdiano. O financiamento, aprovado pelo FMI na quinta-feira, ao abrigo do programa de Facilidade Rápida de Crédito (Rapid Credit Facility – RCF, na sigla em inglês), servirá para reforçar o setor da saúde, face aos efeitos da pandemia de covid-19, segundo o Governo cabo-verdiano.

No documento, a que a Lusa teve hoje acesso, o FMI aponta que a conjuntura da pandemia no arquipélago de Cabo Verde deverá elevar o défice das contas do país dos anteriores 3,9% - conforme previsão feita ao abrigo do programa de assistência técnica com o Instrumento de Coordenação de Políticas (PCI, na sigla em inglês) -, para 14,7% do Produto Interno Bruto (PIB).

“Combinado com a queda esperada nas entradas líquidas de capital, resultará num défice total de 197 milhões de euros, em comparação com um excedente de 45 milhões de euros [esperados] no PCI”, lê-se no relatório do FMI.

O empréstimo do FMI deverá cobrir apenas 15% das necessidades de financiamento que Cabo Verde agora enfrenta. A restante parcela “será financiada com empréstimos e doações do Banco Mundial, da União Europeia e do Banco Africano de Desenvolvimento, que anunciaram planos para antecipar os seus desembolsos”, prossegue-se no relatório.

Uma parte será ainda garantida com o “levantamento das reservas internacionais”, que vão descer para 543 milhões de euros, 123 milhões de euros “abaixo do nível do final de 2019”.

“Uma redução ainda mais rápida das reservas seria indesejável e potencialmente desestabilizadora para Cabo Verde”, alerta o FMI.

No mesmo documento, é previsto que só com o turismo – o arquipélago recebeu um recorde de mais de 800 mil turistas em 2019 -, as receitas cabo-verdianas vão perder o equivalente a 17,7% do PIB em 2020, passando da expetativa anterior de 470 milhões de euros para 169 milhões de euros.

Depois de previsões de crescimento do PIB cabo-verdiano de 5,7% em 2019 e de 5% para este ano, a revisão feita pelo FMI é agora mais gravosa e aponta para um recuo de 5,5% em 2020.

“A perspetiva de médio prazo permanece geralmente favorável”, aponta o FMI, referindo que essa previsão está “condicionada à recuperação de a economia global em 2021”, bem como à retoma do turismo sustentado e aos fluxos de capital para Cabo Verde, mas também à conclusão de “grandes projetos de infraestrutura previstos antes do surto de covid-19” e à implementação de reformas estruturais.

“Posteriormente, espera-se que o crescimento acelere em 2022, antes de retornar à sua trajetória de médio prazo pré-covid-19”, admite o FMI, perspetivando que o PIB de Cabo Verde chegue aos 200,4 mil milhões de escudos (1.807 milhões de euros) e aos 217,4 mil milhões de escudos (1.960 milhões de euros) em 2022, comparando com as previsões anteriores de 224,3 mil milhões de escudos (2.022 milhões de euros) e de 239,8 mil milhões de escudos (2.162 milhões de euros), respetivamente.

Cabo Verde conta agora 88 casos da covid-19, distribuídos pelas ilhas da Boa Vista (54), de Santiago (33) e de São Vicente (1). Um destes casos, um turista inglês de 62 anos – o primeiro diagnosticado com a doença no país, em 19 de março -, acabou por morrer na Boa Vista, enquanto outro dos doentes já foi dado como recuperado.

Desde sábado que está em vigor um segundo período de estado de emergência, mantendo-se suspensas as ligações interilhas e a obrigação geral de confinamento, além da proibição de voos internacionais.

A declaração do atual estado de emergência prevê para as ilhas da Boa Vista, Santiago e São Vicente, todas com casos de covid-19, que permaneça em vigor até às 24:00 de 02 de maio. Nas restantes seis ilhas habitadas, sem casos diagnosticados da covid-19, a prorrogação do estado de emergência é mais curta, até às 24:00 de 26 de abril.

A nível global, segundo um balanço da AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 190 mil mortos e infetou mais de 2,6 milhões de pessoas em 193 países e territórios.

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