A poucos dias de celebrar o dia da independência – que se festeja a 14 de Maio -, Israel tem finalmente um governo nomeado, após 18 meses de profunda instabilidade política e de uma crise parlamentar que parecia não ter fim à vista. Em apenas ano e meio, o país do Médio Oriente teve 3 atos eleitorais e viu com profunda desconfiança as medidas decretadas pelo Primeiro-Ministro, Benjamin Netanyahu, para travar a pandemia da COVID-19 no país.
Muitos israelitas pensaram que o chefe do governo de Jerusalém estava a tomar medidas exageradas ao impedir os voos da China e da Coreia do Sul, a fechar fronteiras e o aeroporto internacional Ben Gurion ou, mais tarde, a aceder aos telemóveis dos cidadãos para perceber onde estiveram e com quem.
O líder do partido Likud chegou a afirmar que caso as medidas não fossem tomadas pelo Knesset – parlamento israelita – em breve o país teria de lidar com um milhão de doentes e mais de 10 mil mortos, profetizou Netanyahu.
“Bibi” como também é conhecido o primeiro-ministro enfrentou as críticas de médicos e profissionais de saúde que classificaram as posições e medidas como absolutamente excessivas. Um mês e meio depois, Israel tem 14 mil 803 infetados pelo vírus SARS-COV 2, a lamentar 192 mortos e 5611 doentes recuperados após infeção pelo novo coronavírus.
Apesar do número reduzido de hospitais de que o país dispõe, a verdade é que a curva epidemiológica tem vindo a ser achatada.
O fecho de fronteiras, as máscaras e o isolamento social
“Israel não é Portugal. Quando se diz que se vai fechar as fronteiras, isso demora 5 minutos”, explica o empresário luso-israelita, Roberto Schliesser, em entrevista ao Canal S+.
As entradas no país, muitas delas a um ritmo diário, são sobretudo de Palestianos provenientes da Cisjordânia que trabalham em Israel. “Essas entradas, fazem-se por controle biométrico” esclarece Roberto Schliesser. Garantidamente, essa foi uma medida “acertada” de “Bibi” para impedir a entrada em território israelita de potenciais novos casos.
Habituados a lidar com inimigos visíveis, desta vez os israelitas tiveram de se munir de máscaras para sair de casa para ir às compras ou à farmácia e é assim que lidam com um inimigo invisível como o vírus SARS-Cov 2. Cerca de 80 a 90% dos cidadãos já se habituou a usar este mecanismo de proteção individual. “Hoje sai para fazer compras e nas ruas vê-se as pessoas com máscara. Algumas não as usam sempre, mas levam-nas com eles na mão. Quando entram numa loja colocam-nas. É a forma de se protegerem e de protegerem os outros”, adianta Schliesser que nasceu em Lisboa, mas agora vive em Israel.
Para o empresário luso-israelita, há outra medida a destacar no processo de combate à pandemia da COVID-19 que foi o confinamento social da maior parte da população, sobretudo numa altura muito festejada como é a Páscoa judaica – Pessach -. “Nessa altura, as pessoas só podiam sair de casa até 100 metros”, explica Schliesser.
Isolados como uma ilha no Médio Oriente, Israel utilizou todos os recursos que tinha ao seu alcance na corrida internacional à compra de EPIs (Equipamentos de Proteção Individual), maioritariamente produzidos na China. Alguns agentes da Mossad – Serviços Secretos de Israel - foram mesmo chamados para as missões de aquisição destes EPIs no estrangeiro.
“O maior problema de Israel é o número reduzido de hospitais que o país tem”, identifica Roberto Schliesser. O empresário luso-israelita adianta que “nos últimos 20 anos só se construiu um único hospital em Israel e é bastante pequeno”. Em contraciclo, com os cuidados hospitalares, “Os serviços de telemedicina estão amplamente divulgados. A maior parte da população tem acesso a cuidados médicos a partir do smartphone”, garante Schliesser. Outra vantagem que o país dispõe é de ser uma “Start-Up Nation”, com cidadãos habituados a improvisar, em curto espaço de tempo, perante situações de profunda gravidade e em condições por vezes muito difíceis. Esse “património” e capacidade de adaptação são para o luso-israelita uma das grandes mais-valias de Israel para estar a alcançar os bons resultados perante a pandemia que fustiga o mundo inteiro.
Apesar do Governo de Benjamin Netanyahu ter tomado medidas fortes na contenção e propagação da doença COVID-19, é verdade que o executivo também não se inibiu em “abrir os cordões à bolsa” e investir fortemente para impedir um outro contágio: o declínio da economia nacional.
Roberto Schliesser explica que a população e a comunidade portuguesa residente no país não estão em pânico, mas sim apreensivos como é de esperar. Maioritariamente, “a preocupação tem sido sobretudo mais financeira, do que sanitária”, conclui o empresário.
Hoje cerca de 30 a 40% dos negócios já estão abertos, sobretudo o comércio de rua, dado que as grandes superfícies mantêm ainda as portas fechadas, mas é de esperar que após o dia da independência (14 de Maio) mais medidas de confinamento e de restrição à circulação sejam progressivamente levantadas.
Para Schliesser, “vão sempre existir restrições naturalmente no turismo e na hotelaria”, mas o empresário está confiante que o país consiga até 2021 recuperar, dado que Israel exporta sobretudo para a Europa e os Estados Unidos, dois mercados muito afetados pela pandemia, mas que continuam a precisar de vários bens produzidos em Israel.