SAÚDE QUE SE VÊ

Sem-abrigo toxicodependentes esperam três meses por consulta

LUSA
13-11-2019 12:29h

O psicólogo Joaquim Rodrigues, um dos rostos da Estratégia Nacional de Luta Contra a Droga, lamentou hoje que os sem-abrigo toxicodependentes que querem fazer tratamento tenham de esperar até três meses por uma consulta de avaliação.

“Eles só vão fazer tratamento quando o sofrimento é muito. Se para um doente normal isso (três meses) é muito, para aqueles que mais precisam é demasiado”, disse Joaquim Rodrigues, ao intervir num colóquio comemorativo dos 20 anos da Estratégia Nacional de Luta Contra a Droga (ENLCD), realizado em Viseu.

O psicólogo, que integrou a comissão nomeada para apresentar o relatório sobre a ENLCD e foi diretor geral do Gabinete de Planeamento e Coordenação do Combate à Droga e presidente do Instituto Português da Droga e da Toxicodependência, é atualmente secretário da Comunidade Vida e Paz e conhece a realidade dos sem-abrigo em Lisboa.

Segundo Joaquim Rodrigues, o tempo de espera pela consulta “não é comportável” e é uma situação que tem de ser resolvida.

“A capacidade instalada para responder é suficiente. Não há saturação das mais de 1.500 camas convencionadas pelo Ministério da Saúde”, frisou.

Para o professor e vice-reitor da Universidade Lusófona Carlos Poiares, “a droga é um problema de saúde pública, que requer prevenção”, esteja ela “no Ministério da Justiça, no Ministério da Saúde ou no Ministério da Higiene”.

“Se nós em Portugal nos podemos orgulhar de alguma coisa é do grande trabalho que se fez de prevenção do consumo das drogas nas escolas, nas ruas, nas universidades, em todo o lado”, realçou, acrescentando que é essa prevenção que tem de continuar a mobilizar os portugueses.

Carlos Poiares destacou o papel das Comissões para a Dissuasão da Toxicodependência (CDT), que “são plataformas de prevenção de riscos e de danos”.

O médico João Goulão, que integrou a comissão que elaborou a ENLCD e é o diretor geral do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências, lembrou os “rios de dinheiro” que se gastaram no passado em prevenção.

“Hoje faz-se pouco (na prevenção) para o que devíamos fazer, mas faz-se de forma muito mais eficaz do que se fazia com 'spots' publicitários”, considerou o também coordenador nacional para os Problemas da Droga, das Toxicodependências e do Uso Nocivo do Álcool.

O colóquio foi organizado pelas CDT de Viseu, Guarda, Aveiro, Coimbra, Leiria e Castelo Branco.

MAIS NOTÍCIAS