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Tutela aberta a proposta para agilizar investigação em cancro pediátrico

LUSA
10-11-2019 18:49h

O secretário de Estado da Saúde desafiou hoje a Associação Portuguesa de Investigação em Cancro (ASPIC) a apresentar uma proposta para agilizar a capacidade de Portugal participar em ensaios internacionais de oncologia pediátrica.

António Sales falava no encerramento do encontro sobre investigação em cancro pediátrico que hoje juntou na Fundação Calouste Gulbenkian médicos oncologistas, investigadores e associações de apoio a doentes, respondendo ao repto lançado pelo presidente da ASPIC para que exista uma estrutura própria de recursos humanos para ser possível agilizar este processo.

“Convido-o a trazer uma proposta concreta para que a tutela possa analisar e para que possamos, eventualmente, trazer novidades quando for o Dia Mundial do Cancro Pediátrico, em fevereiro”, disse António Sales.

Reconhecendo que o cancro pediátrico não deixa ninguém indiferente e que é uma doença que tem ainda “um grande impacto social”, António Sales sublinhou: “Temos a obrigação de tudo fazer para devolver a estas crianças o sonho adiado”.

O governante elogiou o trabalho dos três centros de referência para o cancro pediátrico – Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto, Hospital Pediátrico de Coimbra e IPO de Lisboa -, a que chamou “as joias da coroa”, e reconheceu o “esforço hercúleo que estas instituições têm feito para o registo no sentido de promover dados nacionais” desta doença.

“É preciso tornar mais fluido este processo”, afirmou António Sales, sublinhando ainda que Portugal não pode “perder o comboio da investigação científica”.

“O conhecimento avança e os doentes oncológicos não podem esperar pela desejada validação [dos ensaios] em idade adulta”, defendeu.

Antes de António Sales, já o presidente da ASPIC, Luís Costa, tinha sublinhando a necessidade de “maior atenção à investigação” em oncologia pediátrica.

“Há três áreas muito importantes que precisam de melhor atenção na investigação: Nem todas as nossas crianças são curadas e é preciso perceber porque alguns não conseguem beneficiar ainda da ciência como seria de esperar; das que conseguem ser curadas, pelo menos um terço têm consequências graves e outras terão outras consequências, e depois estudar quais são as causas do cancro pediátrico e o que podemos fazer”.

“Temos de estudar como podemos curar crianças e não serem portadores de consequências graves. A sua produtividade para a sociedade é muito importante”, sublinhou o especialista.

Luís Costa reconheceu ainda que “o ambiente de investigação em cancro na pediatria é sobretudo um ambiente académico, não tem estrutura de base de apoio para submissão e tradução do consentimento informado que existe nos ensaios apoiados pela indústria farmacêutica”.

“É preciso fazer uma proposta à tutela para ver se, com alguma estrutura de recursos humanos, poderia ser possível ou não ter essa agilização e essa capacidade de participar nos ensaios académicos a nível internacional”, afirmou.

“Suponho de haverá abertura da tutela para estudar para que depois possa ser concretizado. Se conseguíssemos isso a sociedade agradece, as crianças agradecem, e os pais destas crianças também”, acrescentou, sublinhando que o cancro pediátrico “não tem sido suficientemente apoiado pelas diferentes organizações”.

Durante a conferência foram apresentados dois inquéritos, um que indica que os investigadores que trabalham na área da oncologia pediátrica em Portugal estudam sobretudo as leucemias agudas e os tumores cerebrais e que metade não tem fundos para desenvolver a sua atividade, e outro, aos pais de crianças com cancro e ex-doentes, que conclui que a investigação nesta área é “manifestamente insuficiente" no país.

Em Portugal são diagnosticados cerca de 400 casos/ano de cancro em crianças.

O encontro na Fundação Calouste Gulbenkian, organizado sob a chancela da ASPIC, contou na comissão organizadora com a Acreditar - Associação de Pais e Amigos das Crianças com Cancro, da Fundação Rui Osório de Castro, a Sociedade de Hematologia e Oncologia Pediátrica e de diversos investigadores nacionais na área do cancro pediátrico, e com o patrocínio da Fundação para a Ciência e Tecnologia.

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