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Covid-19: Etiópia vai fechar campo com milhares de refugiados eritreus vulneráveis

LUSA
16-04-2020 12:53h

A Etiópia prepara-se para encerrar um campo com milhares de refugiados eritreus e reinstalá-los em campos que, segundo a ONU, já estão cheios, apesar dos receios de que esta operação torne estas pessoas mais vulneráveis à covid-19.

O campo Hitsats é um dos quatro campos da região norte do Tigré que acolhem um total de quase 100.000 refugiados da Eritreia, dos mais de 170.000 refugiados eritreus em todo o país, de acordo com a Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR).

No início de março, funcionários etíopes tinham informado a ACNUR da sua intenção de encerrar o campo Hitsats como parte de um plano de reestruturação, mas esse plano foi adiado depois de a Etiópia ter registado os seus primeiros casos da covid-19, em meados desse mês.

Contudo, os preparativos para o encerramento do campo Hitsats prosseguiram e esta semana o diretor-geral adjunto da Agência Etíope para os Refugiados e Repatriados, Eyob Awoke, anunciou que a reinstalação poderia começar no final de abril.

"Estamos prontos para começar. Mas não podemos começar com um grande número (de refugiados). Podemos começar com um pequeno número", disse, acrescentando: "Podemos até começar antes do final deste mês".

Os refugiados do campo Hitsats poderão reinstalar-se em dois outros campos ou obter uma autorização para viver e trabalhar de forma independente na Etiópia.

A decisão de encerrar este campo – que abriga 13.022 refugiados, segundo o governo - está em parte ligada aos cortes orçamentais do ACNUR, afirmou Eyob Awoke.

O Governo acredita também que pode acolher melhor os refugiados através da reestruturação dos campos em Tigré, acrescentou.

A Etiópia começou o ano com um corte de 14% no financiamento da organização, mas isso não justifica o encerramento de um campo, disse Ann Encontre, um representante da ACNUR na Etiópia.

E advertiu que a deslocação de refugiados de Hitsats para outros campos irá "sem dúvida" torná-los mais vulneráveis à covid-19.

Nos outros dois campos "não há água nem instalações sanitárias suficientes, não há serviços médicos e de saúde suficientes", disse Ann Encontre. "Não existem instalações e abrigos suficientes para um afluxo tão grande" de refugiados, rposseguiu.

Até agora, a Etiópia comunicou 85 casos de covid-19, nenhum dos quais em campos de refugiados.

A nível global, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 133 mil mortos e infetou mais de dois milhões de pessoas em 193 países e territórios. Mais de 436 mil doentes foram considerados curados.

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