Numa altura em que a região Norte do país regista 10 751 casos confirmados de Covid-19, dos quais 798 pertencem ao conselho de Matosinhos, António Taveira Gomes, Presidente do Conselho de Administração da Unidade Local de Saúde de Matosinhos (ULSM), revela, em entrevista ao S+, as medidas já implementadas pelo Hospital, para fazer face à pandemia, e as que estão a ser postas em prática, antecipando um pior cenário.
Reorganização das áreas hospitalares
Praticamente em todas as áreas do hospital, e mais tarde nos centros de saúde, foram criados locais específicos para doentes com Covid-19 ou suspeitos, o que implicou “duplicar quase todas as áreas, desde os serviços de urgência, às enfermarias, aos cuidados intermédios e intensivos até à pediatria”, avança António Taveira Gomes. Foram também criadas, nos centros de saúde, zonas destinadas exclusivamente a casos Covid-19.
Os serviços de urgência foram readaptados e têm, atualmente, duas áreas de admissão separadas e os doentes são encaminhados depois de um inquérito.
O Presidente do CA da ULSM adianta que a principal repercussão para o hospital é “a paragem da atividade programada, que ficou restrita só a algumas pessoas com necessidades inadiáveis de procedimentos, sejam eles cirurgias ou outros”. Todos os restantes doentes encontram-se em espera.
Nova ala de cuidados intensivos
A maior preocupação está na resposta aos casos mais graves, no entanto, “nesta altura não são uma preocupação direta” uma vez que o Hospital tem capacidade “para duas ou três vezes mais” do que aquilo que tem sido o panorama atual.
O Hospital Pedro Hispano está a criar, em tempo recorde, uma nova ala destinada aos cuidados intensivos, com 11 quartos de pressão negativa. O projeto, cujo investimento foi de 700 mil euros, vai permitir duplicar a capacidade que existia até agora, adianta António Taveira Gomes.
Com esta nova ala vai ser possível recuperar ventiladores para as salas de bloco operatório, disponibilizar o espaço do recobro de um dos blocos para operar outros doentes para que, num processo gradual e de uma forma segura e sem riscos, se possa retomar o apoio aos doentes não Covid-19.
Acompanhamento a Doentes Infetados
O Hospital tem, atualmente, em enfermarias dedicadas, 63 doentes infetados, 4 casos encontram-se na urgência, num processo inicial mas já com diagnóstico confirmado, 3 na área de obstetrícia. Nos cuidados intermédios, onde existem 13 camas disponíveis, estão 5 doentes e nos intensivos, onde existem 10 camas, há 4 dentes internados.
O Hospital Pedro Hispano está ainda, em conjunto com a Câmara Municipal de Matosinhos (CMM) e a Proteção Civil, a planear uma alternativa para os doentes que têm alta, mas que apresentam uma autonomia limitada, e que não reúnem as condições necessárias para o isolamento no seu domicílio.
A solução encontrada pode passar pela “reconversão de um hotel em hospital ou em estrutura residencial, para pessoas com elevado grau de dependência”, avança António Taveiro Gomes.
Testes Diagnóstico à Covid-19
O Hospital Pedro Hispano conseguiu habilitar rapidamente o laboratório a fazer o diagnóstico da Covid-19 e, neste momento, tem capacidade para realizar cerca de 240 testes por dia. A colheita é feita numa tenda, localizada perto do serviço de urgência e só a pessoas com indicação médica.
Perto do Centro de saúde de Matosinhos, no parque de Manhufe, há uma unidade que funciona em “modelo Drive-In”, permitindo às pessoas a deslocação de carro para realizarem o rastreio. Esta estrutura implementada tem capacidade para atingir os 140 testes à Covid-19, por dia.
Em função da pressão que se criou e do risco que foi identificado nas estruturas residenciais para pessoas idosas, começaram a ser realizadas as colheitas a utentes e funcionários de lares do concelho, com recurso a um autocarro de rastreio móvel. Uma iniciativa da CMM, com o apoio das equipas da ULSM e que permite “com muita proximidade e diminuindo muito o risco, testar dentro do próprio autocarro”, avança.
Abastecimento de equipamento de proteção e material laboratorial
A ULSM teve algumas dificuldades no abastecimento de material para fazer os testes, o que fez com que não realizassem tantos quantos era possível, dada a sua capacidade laboratorial. No que diz respeito ao equipamento de proteção individual garante que não foram dos mais atingidos e que quase sempre tiveram o necessário.
“Tivemos alguma limitação e algum risco de ficarmos sem capacidade mas nesta altura estamos melhor. O reabastecimento destes equipamentos tem sido mais constante”, esclarece o Presidente do CA da ULSM.
António Taveira Gomes acredita que é possível ultrapassar isto, e bastante bem, se a sociedade for responsável. Em termos de proteção individual considera que “estamos a responder demasiado tarde a mecanismos de proteção em toda a parte em que circulem pessoas”, defendendo o uso da máscara.
Quanto aos profissionais de saúde acrescenta que a “Covid-19 não mudou o paradigma do que foi sempre a atuação dos profissionais de saúde que é cuidar das pessoas”. Este cuidar (…) foi aquele que motivou e motiva todos”, conclui.
A pandemia de covid-19 já provocou, a nível global, quase 127 mil mortos e infetou mais de dois milhões de pessoas em 193 países e territórios. Mais de 428 mil doentes foram considerados curados.
Em Portugal, morreram 599 pessoas das 18.091 registadas como infetadas.