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Portugal continua "aquém" do desempenho científico de outros países europeus 

LUSA
07-11-2019 16:19h

Apesar do "progresso notável" da ciência produzida em Portugal ao longo das últimas três décadas em termos de investimentos e resultados, o país continua "aquém" do desempenho de países com sistemas científicos mais sólidos, conclui um estudo hoje divulgado.

Foi com o propósito de descrever a evolução da ciência produzida em Portugal nas últimas três décadas (1987-2016) e estabelecer “pontos de referência” entre o presente e o passado para “orientar as direções a seguir no futuro”, que nove investigadores se juntaram e redigiram o relatório “A evolução da ciência em Portugal”.

Sob a ótica de quatro domínios científicos – Ciências Exatas e Engenharias, Sociais e Humanas, da Natureza e Ambiente, e da Vida e da Saúde - o estudo, além de comparar a produção científica portuguesa com a de seis países de “referência” (Grécia, Irlanda, Espanha, Itália, Noruega e Holanda), descreve também diferenças entre as regiões do país.

Neste retrato temporal e geográfico, os autores afirmam que, apesar do “progresso notável” na quantidade de investimentos e resultados, Portugal continua ainda próximo dos países com desempenho inferior e “aquém do desempenho científico” dos países com sistemas “mais sólidos”.

Ainda que o crescimento do número de investigadores tenha vindo a ser “assinalável”, com o número a alcançar em 2008 a média da União Europeia (UE), tal não se verificou no total de recursos humanos.

Comparativamente com os países de “referência”, Portugal apresenta um dos “menores rácios” de recursos humanos por mil ativos, sendo que entre 2012 e 2016, a média anual deste rácio (9,12) ultrapassava apenas a Grécia e Espanha e estava “distante” do registado em países como a Noruega e a Holanda.

“Os recursos humanos e financeiros de Portugal para a investigação científica são muito dependentes do Estado comparativamente com a média europeia, onde há maior contribuição empresarial”, sustentam os investigadores.

Apesar do “nível muito baixo de financiamento” atribuído à ciência nacional, com o país a ocupar a 7.ª posição quando comparado com os restantes países europeus, foram alguns os indicadores que “melhoraram”.

O número de doutorados formados, as publicações indexadas na ‘Web of Science’ (WoS) e as patentes requeridas ao ‘European Patent Office’ (EPO), levam os autores a afirmar que, nestes aspetos, Portugal “tem sido superior” à Grécia, Itália e Espanha.

Contudo, Portugal apresenta um “pior desempenho” ao nível das publicações científicas, onde o “impacto” destas continua ainda “muito distante” de países como a Irlanda, Noruega e Holanda.

Ao nível do território nacional, os resultados refletem um “país bipolar” com o investimento em ciência e os seus resultados a concentrarem-se nas regiões “mais populosas”: Norte, Centro e Lisboa.

Apesar do investimento ser “inferior” nas restantes regiões (Algarve, Alentejo, Madeira e Açores), o Algarve foi “melhorando” vários índices, contrariamente às regiões autónomas da Madeira e dos Açores.

“Esta distribuição enviesada foi evidente em todos os indicadores de atividade científica, como recursos humanos, despesa em I&D (investigação e desenvolvimento), projetos da UE e número de doutorandos inscritos”, asseguram os autores.

Quanto à produção científica, o Norte, Centro e Lisboa evoluíram “positivamente”, sendo que a área das Ciências Exatas e Engenharias tem sido a mais predominante nestas regiões.

Nas restantes, os resultados apontam a Madeira como líder “nos indicadores de investigação de excelência e nas patentes requeridas por habitante”, além de que, em conjunto com a região do Algarve, encabeça também a “maior percentagem de publicações com colaboração internacional”.

De acordo com o estudo, as regiões do Alentejo, Algarve, Açores e Madeira são, regra geral, mais “especializadas” em Ciências Naturais e do Ambiente, nomeadamente em áreas como a gestão e produção de recursos terrestres e marinhos.

O estudo, que faz também um retrato e compara as instituições do ensino superior e as fundações privadas de produção científica, afirma que a Fundação Champalimaud “liderou claramente” todos os indicadores de impacto científico.

Os resultados obtidos apontam também para uma “maior colaboração” entre as instituições e regiões, apesar de ainda “muito centrada” nas três regiões mais populosas e nas instituições de Ensino Superior com “maior dimensão” e “longa tradição”.

Por fim, os autores consideram que, tendo em conta os “progressos” e “fragilidades” da ciência refletidas no estudo, torna-se “fundamental”, entre outros aspetos, aumentar os níveis de recursos humanos, de financiamento em I&D, de participação das empresas e do impacto das publicações científicas.

O estudo “A evolução da ciência em Portugal” é apresentado hoje em Aveiro, na conferencia “A atitude científica – O que é a ciência e o que, não é?”, uma iniciativa organizada pela Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) no âmbito do ciclo de debates e conferencias sobre ciência e educação.

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