A oposição venezuelana denunciou hoje que mais de três mil venezuelanos que nas últimas duas semanas regressaram ao país estão amontoados e em condições de insalubridade no estado de Táchira, fronteiriço com a Colômbia.
“Mais de três mil pessoas foram levadas para refúgios em instalações educacionais que foram invadidas (pelas autoridades) e utilizadas como locais de confinamento, onde prevalece a superlotação e a insalubridade”, explica um comunicado divulgado em Caracas pelo partido opositor 'Vente Venezuela' (VV, de centro-direita).
Segundo o VV, esses venezuelanos estão em refúgios de Ureña, San António, Tienditas, El Palotal, Rubio, San Cristóbal e outras povoações de Táchira, a sudoeste do país.
O documento explica que depois de emigrarem, escapando da crise na Venezuela, mais de cinco mil venezuelanos regressaram ao país nas últimas semanas devido à crise global provocada pela covid-19, caminhando desde o Perú e do Equador até ao norte da Colômbia.
“Para muitos deles, a primeira paragem é a ponte internacional Simón Bolívar (que une a Colômbia e a Venezuela). Depois, são transferidos para San António, onde dezenas dormem ao ar livre e alguns estão encerrados há mais de 11 dias sem saber quanto tempo vão permanecer lá e sob condições mínimas de atenção”, explica o VV.
Aquele partido diz compartilhar “a preocupação dos moradores dessas áreas fronteiriças perante a falta de controle, o abuso e a manipulação do regime, nesta conjuntura que também afeta os estados (venezuelanos) de Apure, Amazonas e Zúlia, por onde centenas de pessoas estão entrando sem controle sanitário”.
“O regime sempre mente. Não há certeza sobre os números reais de contágio por coronavírus no país, nem sobre a pobre capacidade que tem a nação para assumir esta situação”, refere o comunicado, que denuncia a falta de suprimentos médicos e instalações sanitárias adequadas.
Segundo o VV, “em democracia, o governo estaria na obrigação de receber e proteger os venezuelanos que retornam ao país, independentemente das circunstâncias que os obrigaram a emigrar”.
“Na Venezuela, cumprir a quarentena - agora prolongada por mais 30 dias - é uma condenação para muitos cidadãos, que são forçados a escolher entre morrer de fome ou morrer do coronavírus e são submetidos à tortura diária das falhas constantes dos serviços básicos e brutalmente reprimidos por protestar”, lê-se no documento, que condena “a grave escassez de gasolina” que afeta os agricultores “e inclusive dos médicos que combatem a pandemia”.
A oposição denuncia ainda que as povoações fronteiriças são constantemente ameaçadas por “grupos armados irregulares que operam sob o consentimento das Forças Armadas” venezuelanas.
A Venezuela tem oficialmente 189 casos confirmados de contágio e nove mortes associadas à infeção pelo novo coronavírus.
O país está desde 13 de março em estado de alerta, o que permite ao executivo tomar "decisões drásticas" para combater a pandemia. O estado de alerta foi decretado por 30 dias, e prolongado por igual período.
Desde 16 de março que os venezuelanos estão em quarentena, estando impedidos de circular livremente entre os 24 estados do país.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já provocou mais de 117 mil mortos e infetou quase 1,9 milhões de pessoas em 193 países e territórios.
Dos casos de infeção, cerca de 402 mil são considerados curados.
Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.