O Centro Hospitalar Lisboa Norte vai arrancar com um processo de reorganização para diminuir a sobrelotação nos internamentos e reduzir os doentes internados em macas, que passa também pela hospitalização domiciliária.
Em entrevista à agência Lusa, o diretor clínico do centro que agrega o Santa Maria e o Pulido Valente admitiu que está traçado o diagnóstico de que “há doentes que estão internados além da dotação oficial e física de camas”, sendo a sobrelotação uma realidade destes hospitais, como de outros no país.
O problema da sobrelotação acontece sobretudo em áreas de especialidades médicas, que recebem muitos doentes das urgências, não afetando tanto as especialidades cirúrgicas, que conseguem manter uma atividade programada.
O diretor clínico do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN), Luís Pinheiro, indica que o objetivo é reduzir o tempo de internamento desnecessário.
“O objetivo não é que o doente saia enquanto precisar de cá estar. O objetivo é que precise de cá estar menos tempo. É tentar encurtar não o serviço que prestamos, mas rentabilizar e retirar permanências desnecessárias. Se um doente está à espera dois ou três dias de um exame, se estiver um dia e meio, ganhamos. O objetivo não é dar alta mais cedo do que precisa, é fazer com que precise de estar menos tempo no hospital”, argumentou Luís Pinheiro.
Dentro de um ano, o CHULN pretende reduzir entre 0,3 a 0,5 dias de internamento por doente, em média. No serviço de medicina interna estão, por ano, em média, 10 mil doentes. Uma redução de 0,3 dias de internamento permitirá uma diminuição de 3.000 dias.
Atualmente, por exemplo, há num dia cerca de 40 doentes no Santa Maria além da lotação oficial nas enfermarias de Medicina, que representam cerca de 170 camas.
Luís Pinheiro frisa que mesmo os doentes internados além da lotação estão em enfermarias e com equipas médicas e de enfermagem atribuídas, tentando o hospital que cada doente não esteja mais de 24 horas fora da sua “cama definitiva”.
Perante o diagnóstico de sobrelotação, o Santa Maria vai começar hoje com um dos “quatro pilares” de um projeto mais amplo, que passa por “reorganizar os processos” dos serviços, em conjunto com os profissionais, para “agilizar o funcionamento interno”.
Além disso, o CHULC pretende avançar durante o próximo mês com o primeiro conjunto de meia dúzia de doentes em hospitalização domiciliária, uma resposta que permite a doentes recuperar em casa de uma doença aguda.
“A hospitalização domiciliária é uma realidade perfeitamente conhecida e validada. Há garantia de cuidados médicos e de enfermagem como se estivessem internados. São doentes cuja estabilidade clínica permite ter segurança de não estarem no espaço hospitalar, mas que carecem de cuidados que são hospitalares e prestados no seu domicílio”, indicou.
Cerca de 20 hospitais públicos em Portugal têm hospitalização domiciliária e a ministra da Saúde já assumiu que quer alargar estes projetos a todas as unidades hospitalares do SNS.
O Centro Hospitalar Lisboa Norte vai começar com cinco ou seis doentes em hospitalização domiciliária e pretende ir alargando progressivamente esse número.
“Em termos de objetivos, quantos mais doentes tivermos fora do hospital, maior a segurança para esses doentes. Estar no hospital é necessário em muitas situações, tentamos é que essa permanência seja reduzida ao mínimo, porque há sempre riscos associados”, declarou o diretor clínico.