A Comissão Distrital de Proteção Civil (CDPC) do Porto pediu às câmaras municipais que sensibilizem as paróquias para não organizarem iniciativas relacionadas com o compasso de Páscoa que possam causar ajuntamentos proibidos devido à covid-19.
Num ‘email' ao qual a Lusa teve hoje acesso, a CDPC do Porto admite que este é um tema que "localmente pode gerar controvérsia com alguns párocos", mas frisa que "é nesta altura" que é necessária firmeza para "proteger os cidadãos".
Na mensagem lê-se que "a cruz a circular nas ruas em viaturas de bombeiros ou outras, é altamente potenciador de que muitos cidadãos queiram vir ao meio da rua, tocar na cruz, beijar a cruz" o que "potencia a propagação do vírus".
"Apelo também à vossa colaboração junto das paróquias e dos presidentes de Junta para evitar que situações como esta possam acontecer no dia de Páscoa. Aliás, em bom rigor, seria sempre uma ocupação parcial de via pública que careceria de autorização do Município", termina a mensagem assinada pelo presidente da CDPC do e presidente da câmara de Gondomar, Marco Martins.
Em causa, estão iniciativas divulgadas por paróquias que, na sua maioria, incluem a ida de um padre em carro aberto com a cruz em marcha lenta pelas ruas de forma a recriar o compasso de Páscoa, mas sem entrar nas casas.
Na sexta-feira, a paróquia da Areosa (Porto) anunciou que uma cruz com mais de dois metros colocada numa carrinha de caixa aberta vai percorrer no domingo as ruas para celebrar a Páscoa e pedir às pessoas que fiquem em casa.
Em declarações à Lusa, o coordenador paroquial da Areosa, Miguel Araújo, frisou que está a ser pedido às pessoas que não desçam aos passeios, situação semelhante à descrita pelo pároco de Mafamude (Vila Nova de Gaia), que anunciou iniciativa semelhante.
"Decidi fazer este compasso especial. O domingo de Páscoa é muito marcante na vida das pessoas. Sejam ou não praticantes. O objetivo é que sintam a presença simbólica da cruz em suas casas, mas sem sair de casa. Acho que as pessoas vão obedecer", disse à Lusa, Jorge Duarte, padre há 26 anos em Mafamude.
Iniciativas semelhantes foram anunciadas noutras freguesias como a Senhora da Hora (Matosinhos) ou São Martinho do Bougado (Trofa), entre outras.
A própria Diocese do Porto, conforme está descrito em artigo publicado no seu semanário Voz Portucalense, anunciou que no domingo, pelas 12:00, o bispo Manuel Linda "dará a bênção com o Santíssimo Sacramento no tabuleiro superior da Ponte D. Luís recuperando a tradição da Procissão da Ressurreição", a pedido de “muitos fiéis e com plena confiança na misericórdia divina”.
Na mesma publicação, a diocese garante que "para o efeito, foram contactadas as autoridades locais tendo sido garantido que a polícia evitará todo e qualquer agregado de pessoas".
Fonte da Diocese do Porto, contactada pela Lusa, remeteu qualquer posição para outro artigo publicado no seu semanário Voz Portucalense, no qual o bispo do Porto, fazendo referência ao Decreto n.º 2 -B/2020, de 02 de abril, admite a “participação em celebrações de cariz religioso e de outros eventos de culto que não impliquem uma aglomeração de pessoas, bem como em atos fúnebres ou em casamentos urgentes”.
Em declarações à Lusa, o autarca Marco Martins contou que recebeu pedidos de paróquias no seu concelho, os quais não foram aceites.
Quanto ao conteúdo do ‘email' enviado às câmaras municipais do distrito do Porto, o autarca disse que "está a sensibilizar" por "ter receio que as pessoas não se mantenham em casa e desçam ao passeio".
"Podemos, com algo que tem uma boa intenção, pôr em causa tudo o que temos estado a fazer até agora. Acho que não devemos arriscar. A PSP e a GNR estão avisadas para fiscalizar", afirmou.
No ‘email', é referido que a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) "já transmitiu indicações aos corpos de bombeiros para não colaborarem nesta matéria".
A Lusa contactou também outros autarcas, tendo o presidente da câmara de Vila Nova de Gaia, Eduardo Vítor Rodrigues, referido ter conhecimento da iniciativa de Mafamude.
O autarca disse que outras paróquias tinham feito pedidos semelhantes, mas "ou desistiram depois de sensibilizadas ou estão a discutir a ideia hoje".
"O que eu disse e penso é que do ponto de vista afetivo são iniciativas boas, mas é verdade que nada impede que alguém decida aproximar-se. Tentamos dissuadir todos. Aqueles que persistirem, a câmara terá de tentar controlar, portanto a Polícia Municipal vai acompanhar à distância. Não evitando, pelo menos acompanhamos", afirmou Eduardo Vítor Rodrigues.
Pelo menos 470 pessoas morreram em Portugal devido à pandemia, em quase 16 mil casos de infeção.
A nível global, o coronavírus já provocou mais de 103 mil mortos e infetou mais de 1,7 milhões de pessoas em 193 países e territórios.