Um novo caso do vírus do Ébola foi detetado no leste da República Democrática do Congo (RDCongo), três dias antes de o país declarar o fim do surto, anunciou hoje a Organização Mundial de Saúde (OMS).
O novo caso foi registado em Beni, o foco do segundo surto de Ébola mais grave de sempre.
“Apesar de não ser uma notícia bem-vinda, era um acontecimento que esperávamos. Nós mantivemos equipas de resposta em Beni e em outras áreas de risco elevado precisamente por esta razão”, declarou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, numa publicação na rede social Twitter.
“Infelizmente”, acrescentou, “isto significa que o Governo da RDCongo não poderá declarar o fim da epidemia do Ébola na segunda-feira, como se esperava”.
Por seu turno, a chefe da OMS África, Matshidiso Moeti, desabafou, também no Twitter: “Estou triste”.
Os profissionais de saúde na RDCongo tinham apontado para a próxima segunda-feira a declaração do fim da emergência de saúde pública mundial do Ébola, enquanto se preparam para a chegada de outra: a covid-19.
Já foram comunicados dois casos de infeção pelo novo coronavírus em Beni.
“A OMS tem trabalhado lado a lado com os profissionais de saúde da RDCongo nos últimos 18 meses e as nossas equipas estão neste momento a apoiar a investigação deste último caso”, disse Moeti.
“Apesar de a atual pandemia da covid-19 fazer aumentar os desafios, prosseguiremos os esforços comuns até que consigamos declarar o fim deste surto de Ébola juntos”, acrescentou.
A última pessoa que tinha contraído Ébola na RDCongo teve dois testes negativos e teve alta do centro de tratamento a 03 de março.
“Só teremos de esperar mais 42 dias”, o tempo necessário sem um novo caso de Ébola para que o surto seja declarado como terminado, afirmou o responsável pelas emergências da OMS, Mike Ryan.
“Talvez seja essa a nossa lição para a Covid-19: ‘Não há estratégia de saída até que estejas no controlo da situação’", disse Ryan, acrescentando: "Tens de estar sempre pronto para recomeçar. Nunca te surpreendas".
Segundo a OMS, um total de 2.276 pessoas morreram devido ao Ébola, entre 3.456 casos confirmados e prováveis, desde agosto de 2018, no segundo surto mais mortífero da epidemia, após o de 2014-2016 na África Ocidental.
O atual surto ocorreu em condições especialmente difíceis, entre ataques mortais dos rebeldes, suspeitas da comunidade e algumas das infraestruturas mais fracas do mundo em áreas remotas.
No entanto, o surto assistiu à utilização de vacinas experimentais contra o Ébola, um desenvolvimento bem-vindo no combate a esta doença.
O comité de emergência relativo ao Ébola na RDCongo vai voltar a reunir-se na próxima semana para reavaliar as suas recomendações face a esta nova informação.