O coordenador nacional para a reforma dos cuidados de saúde primários defendeu hoje que os centros de saúde devem ter capacidade para realizar ecografias obstétricas, mas só feitas por profissionais qualificados.
Para Henrique Botelho, as grávidas devem ser acompanhadas nos cuidados de saúde primários, os quais deverão ter capacidade técnica para a realização de ecografias.
“Os hospitais têm capacidade para responder ao pré-parto, à gravidez, embora muito particularmente acho que numa gravidez normal a realização das ecografias deve ser feita fora do hospital”, disse à agência Lusa Henrique Botelho, que falava à agência Lusa a propósito do caso do bebé que nasceu com malformações graves em Setúbal.
Para o coordenador nacional, a gravidez deve ser acompanhada nos cuidados de proximidade, mas para isso os cuidados primários devem ter “capacidade técnica resolutiva para o que mandam as boas práticas, e neste caso que se realizem as ecografias que estão protocoladas por técnicos qualificados para o fazer, o que manifestamente não aconteceu” neste caso.
Ressalvando que não conhece profundamente o caso, Henrique Botelho afirmou que, pelo que tem lido e pelas posições dos órgãos da Ordem dos Médicos, o obstetra que realizou as ecografias ao bebé “parece não ser virgem em problemas desta natureza”, nomeadamente “erros de diagnóstico ecográfico em obstetrícia”.
“Isto tem de ser investigado. Se calhar já devia ter sido investigado há mais tempo”, sublinhou Henrique Botelho, esperando que no final do caso haja atribuição de responsabilidades, porque é inconcebível “nascer uma criança com dismorfias óbvias e grosseiras”.
“Isto não devia ter acontecido e é bom que não torne a acontecer. Todos somos responsáveis por isto”, vincou o coordenador do relatório final da Coordenação Nacional para a Reforma do SNS na área dos Cuidados de Saúde Primários divulgado pelo Ministério da Saúde.
No relatório está publicado um parecer datado de 11 de outubro que dá resposta a um pedido efetuado pela ex-secretária de Estado da Saúde Raquel Duarte sobre “respostas insuficientes do SNS em ginecologia, obstetrícia e pediatria”, um problema identificado na reunião de Saúde da Mulher e da Criança realizada no passado dia 12 de setembro.
“Consideramos que um dos pontos fundamentais discutido nesta reunião, prende-se com o desvio do SNS de profissionais altamente diferenciados e com responsabilidades na prestação de cuidados e na formação, para unidades privadas de saúde”, lê-se no documento.
Para ultrapassar este fenómeno, a coordenação nacional defende ser “necessário recuperar a capacidade de atração do SNS, de forma a aí fixar os profissionais formados”.
Ressalva ainda que nos cuidados de saúde primários “não se sente como problema a capacidade de resposta na vigilância de saúde da mulher e da criança na população inscrita com equipa de saúde familiar atribuída”.