Os rebeldes Huthis no Iémen rejeitaram hoje um cessar-fogo defendido quarta-feira pela coligação militar liderada pela Arábia Saudita, considerando-a uma “manobra política e mediática” apresentada como forma de travar a propagação da pandemia da covid-19.
“A agressão não parou até agora e há dezenas de ataques aéreos em curso. Há uma violação do cessar-fogo”, declarou hoje Mohamed Abdelsalam, porta-voz dos rebeldes xiitas, apoiados pelo Irão, à cadeia de televisão Al Jazeera.
“Consideramos que o cessar-fogo é uma manobra política e mediática” para melhorar a imagem da coligação “num momento crítico, em que o mundo é confrontado com uma pandemia”, sublinhou o porta-voz do movimento rebelde, que controla a capital, Sanaa, e outras regiões do país.
A coligação liderada pelos sauditas, que apoia desde 2015 o governo iemenita na lura contra os rebeldes e que conta com a ajuda dos Estados Unidos, anunciou quarta-feira à noite que iria observar, ao longo das próximas duas semanas, um cessar-fogo no conflito, em resposta aos pedidos das Nações Unidas para o fim das hostilidades numa altura em que o mundo enfrenta a pandemia da covid-19.
A coligação militar indicou então que o cessar-fogo começaria às 09:00 locais (10:00 em Lisboa) e garantiu que, ao longo da observação da suspensão das hostilidades, iria ajudar nos esforços para trazer as partes em conflito à mesa de negociações para pacificar um país em guerra há cinco anos e que, até agora, não indicou a existência de qualquer caso ligado ao novo coronavírus.
“Anunciamos um cessar-fogo a partir de quinta-feira [hoje] e que se estenderá por duas semanas. Esperamos que os rebeldes Houthis aceitem. Estamos a preparar o terreno para lutar contra a pandemia da covid-19” no Iémen, indicou quarta-feira um responsável saudita, citado pela agência France Presse.
“Esperamos que, com os esforços das Nações Unidas e dos membros do Conselho de Segurança, se possa por pressão sobre os Huthis para que também parem com as hostilidades e para que sejam sérios [em eventuais negociações de paz] com o Governo iemenita”, acrescentou.
A 23 de março, o secretário-geral da ONU, António Guterres, lançou um apelo a um cessar-fogo imediato em todos os conflitos do mundo, com o objetivo de combater a pandemia do novo coronavírus.
O país árabe mais pobre do mundo é assolado por uma guerra civil desde 2014, quando os Huthis, apoiados pelo Irão, tomaram o controlo do norte do país, que incluía capital, Sana. Uma coligação militar liderada pela Arábia Saudita acabou por intervir no conflito no ano seguinte.
Apesar de frequentes ataques aéreos da coligação e de um cerco internacional ao Iémen, a guerra encontra-se num impasse.
O conflito já provocou a morte de mais de 10.000 pessoas e gerou a pior crise humanitária do mundo, deixando milhões à margem da alimentação e de cuidados médicos.
Nos últimos 10 dias, o Iémen, sobretudo nas províncias de Marib, Jawf e Bayda (norte), tem registado fortes confrontos militares entre as forças pró-governamentais e os rebeldes xiitas, que causaram mais de 270 mortos, número reconhecido já pelas duas partes.
Segundo fontes militares sauditas, a coligação de Riade, apoiada pelos Estados Unidos, que defende o governo do Presidente Abed Rabou Mansour Hadi, levou a cabo nas últimas duas semanas cerca de 370 ataques aéreos contra posições dos Houthis, tendo-se registado também cerca de 300 feridos nos dois exércitos.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 1,5 milhões de pessoas em todo o mundo, das quais morreram quase 89 mil.
Dos casos de infeção, mais de 312 mil são considerados curados.
Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.