O corpo clínico do Centro Hepato-bilio-pancreático e de Transplante do Hospital Curry Cabral, em Lisboa, demonstrou hoje em carta aberta o apoio ao diretor do Serviço de Cirurgia Geral e Transplantação, que se demitiu, e pede intervenção da tutela.
"A rejeição pelo Conselho de Administração do CHULC desta proposta, que defende intransigentemente o interesse dos doentes Covid-19 positivo e negativo, levou à demissão de Américo Martins do cargo de Diretor do Centro Hepato-Bilio-Pancreático e Transplantação da Área da Cirurgia", recorda a carta aberta enviada hoje à administração da unidade hospitalar.
"Deste modo, o corpo clínico vem expressar a total solidariedade com a decisão de Américo Martins. A concretização da sua proposta, permitirá retomar a atividade deste centro, tratando adequadamente os doentes como até ao início da pandemia, sem prejuízo dos doentes covid-19 positivos", escrevem os especialistas do Curry Cabral.
Por este motivo, o corpo clíníco apela às entidades competentes que intercedam junto da tutela para evitar o desmantelamento de um dos "maiores centros de referência do país e da Europa" sublinhando que querem continuar a tratar doentes que "tanto precisam".
A carta aberta refere que o Hospital de Curry Cabral possui instalações que permitem circuitos independentes com bloco operatório (incluindo recobro e Unidade de Cuidados Intensivos), consulta, internamento e exames complementares para doentes covid-19 positivos e negativos sem necessidade de quaisquer obras.
Segundo os médicos, "estes circuitos permitiriam tratar de forma separada e segura os dois grupos de doentes".
"O Hospital de Santa Marta não apresenta as condições mínimas para receber um centro com as características e necessidades do CHBPT do Hospital de Curry Cabral", alertam os especialistas na carta aberta.
Na carta aberta dirigida à administração da unidade hospitalar, o corpo clínico diz ainda que além de uma equipa multidisciplinar constituída por cirurgiões, imagiologistas de intervenção, gastrenterologistas/hepatologista , nefrologistas, intensivistas, anestesistas imuno-hemoterapeutas, anatomo-patologistas e oncologistas peritos, equipa de enfermagem "altamente diferenciada" e restantes profissionais de saúde, dispõe ainda "do melhor e mais bem equipado" Bloco Operatório do Serviço Nacional de Saúde, de uma Unidade de Radiologia de Intervenção com equipamento de última geração e instalações de consulta e internamento adaptadas a este tipo de doentes.
O diretor do Serviço de Cirurgia Geral e Transplantação do Hospital Curry Cabral, Américo Martins, que se demitiu na quarta-feira disse hoje à Lusa que o Conselho de Administração deve aceitar o plano de reorganização que os médicos apresentaram.
"Tem de haver um recuo por parte da Administração até pela dimensão do apoio que estamos a ter: os doentes transplantados já fizeram uma petição ao Presidente da República e ao Governo e a nível interno os cirurgiões estão todos unidos contra o Conselho de Administração. Só têm uma alternativa, têm de recuar", afirmou o cirurgião, sublinhando total incompreensão sobre a posição tomada.
"Ou é incompetência ou não sei classificar, talvez estejam a levar à letra o que o Governo, ou pelo menos o que o Ministério da Saúde defendeu no mês passado sobre fazerem do Curry Cabral um hospital covid. Agora, até acho que já nem é necessário e, por isso, criámos um plano alternativo e independente sem covid", disse, alertando que há outros doentes que precisam de ajuda urgente.
"Nós só operamos doentes oncológicos prioritários e transplantação e queríamos criar um espaço totalmente independente para continuarmos a nossa atividade - em termos mais reduzidos - mas a continuarmos a operar todos aqueles doentes que correm perigo de vida e que têm de ser operados", sublinhou o diretor do serviçp.
"Eu demiti-me porque o Conselho de Administração quer levar para a frente um plano que inviabiliza a criação de um circuito totalmente independente aqui no Curry Cabral e não querem recuar e se não recuam não é possível criar um circuito alternativo e independente, para os doentes que não são covid", disse à Lusa Américo Martins, frisando que a mudança poderia ser feita sem custos e em pouco tempo.
Em Portugal, segundo o balanço feito hoje pela Direção-Geral da Saúde, registaram-se 409 mortes, mais 29 do que na véspera (+7,6%), e 13.956 casos de infeções confirmadas, o que representa um aumento de 815 em relação a quarta-feira (+6,2%).
Dos infetados, 1.173 estão internados, 241 dos quais em unidades de cuidados intensivos, e há 205 doentes que já recuperaram.
Portugal, onde os primeiros casos confirmados foram registados no dia 02 de março, encontra-se em estado de emergência desde as 00:00 de 19 de março e até ao final do dia 17 de abril, depois do prolongamento aprovado no dia 02 de abril na Assembleia da República.
Além disso, o Governo declarou no dia 17 de março o estado de calamidade pública para o concelho de Ovar.