Os hospitais de dia de Imunoalergologia e de Reumatologia do Santa Maria vão ser transferidos para o Pulido Valente para que os doentes do serviço de Hematologia possam ter “um distanciamento ainda maior” enquanto aguardam pelo tratamento ou consulta.
“Sendo o Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte [CHULN], nomeadamente o Hospital Santa Maria, um centro de covid-19”, as “partes não covid-19” estão a fazer algumas alterações para uma maior segurança dos doentes, disse à agência Lusa a enfermeira Ortélia Dias, gestora do centro ambulatório do Hospital de Dia.
Uma dessas alterações passa por transferir os serviços de Imunoalergologia e de Reumatologia para o Pulido Valente, o hospital “não covid-19” do CHULN, para criar “um espaço ainda maior” para os “imensos doentes” que continuam a deslocar-se todos os dias ao Hospital de Dia de Hematologia, porque “não podem prescindir de fazer o seu ciclo de quimioterapia”.
A medida visa que os doentes tenham o distanciamento necessário enquanto esperam na sala pelo tratamento para prevenir um eventual contágio pelo novo coronavírus (SARS-Cov-2).
Outro “passo importante” foi a realização de uma zaragatoa de despiste à covid-19 antes de o doente iniciar o tratamento de quimioterapia.
“Todas as medidas estão a ser tomadas, fazendo os possíveis e os impossíveis, porque também temos muita gente em casa, e estamos a trabalhar muito rápido para que tudo seja feito com toda a segurança e prevenção para os doentes”, frisou a enfermeira.
Situado no piso um do Santa Maria, o Hospital de Dia de Hematologia, que recebe cerca de 1.300 novos doentes por ano, é dos poucos serviços onde ainda se observam doentes a aguardar pacientemente pela consulta no corredor ou na sala de espera.
Todos usam máscaras e alguns também luvas como forma de proteção contra a covid-19, o nome da doença causada pelo novo coronavírus que obrigou os hospitais e reorganizarem-se para reduzir ao máximo a presença dos doentes nas suas unidades.
“Tentámos reduzir ao máximo o número de consultas, todos os tratamentos que não tivessem necessidade de serem efetuados, que no nosso caso são poucos, porque a maioria dos nossos doentes são crónicos ou oncológicos que necessitam de determinadas terapêuticas para viver”, disse Ortélia Dias.
No caso dos hospitais de dia, houve apenas uma redução global da atividade de “25 a 30%”.
No Serviço de Endocrinologia vive-se uma realidade diferente. As consultas presenciais deram lugar às teleconsultas para evitar que os doentes sejam expostos “desnecessariamente a eventuais infeções”, disse à Lusa a diretora do serviço, Maria João Bugalho.
“Tivemos que nos adaptar à nova realidade”, disse a endocrinologista, contando que os médicos telefonam agora aos doentes para assegurar que “está tudo bem”, que “têm receitas e continuam a cumprir regularmente a medicação”.
No contexto atual “é fácil que os doentes releguem para segundo plano a sua doença”, disse, destacando o caso da diabetes.
Os doentes às vezes reconhecem que não estão a fazer o que os médicos propõem porque os medicamentos acabaram ou porque estão com receio de perder o emprego ou estão a trabalhar em casa com os filhos.
“Têm de adaptar-se a uma série de coisas de novo e relegam a sua situação para um segundo plano”, lamentou a diretora do serviço, que antes da pandemia realizava cerca de 3.000 consultas por mês.
O papel dos médicos é sensibilizá-los para “a necessidade, agora maior do que noutra altura, de fazerem autovigilância e tomarem regularmente a medicação”, para evitar a infeção, uma vez que são uma população de maior risco se a doença estiver descontrolada.
Por outro lado, os doentes não de devem sentir “inseguros, nem desprotegidos”, porque os médicos continuam no hospital e há circuitos diferenciados para dar condições de segurança.
“A sala de espera do centro de ambulatório está praticamente vazia, os tempos de espera são muito curtos para evitar a permanência naquele espaço e, portanto, em caso de absoluta necessidade, eles poderão procurar-nos”, apontou.
Em Portugal, segundo o último balanço da Direção-Geral da Saúde, registaram-se 380 mortes, mais 35 do que na véspera (+10,1%), e 13.141 casos de infeções confirmadas, o que representa um aumento de 699 em relação a terça-feira (+5,6%).
Dos infetados, 1.211 estão internados, 245 dos quais em unidades de cuidados intensivos, e há 196 doentes que já recuperaram.
Portugal, onde os primeiros casos confirmados foram registados no dia 02 de março, encontra-se em estado de emergência desde as 00:00 de 19 de março e até ao final do dia 17 de abril, depois do prolongamento aprovado na quinta-feira na Assembleia da República.
Além disso, o Governo declarou no dia 17 de março o estado de calamidade pública para o concelho de Ovar.