A polícia de Cabo Verde fez oito detenções na cidade da Praia por desobediência às regras impostas pelo estado de emergência, em vigor desde domingo devido à pandemia de covid-19, disse hoje à Lusa um comandante policial.
Em entrevista à Lusa, o comissário Hermínio da Veiga, comandante da esquadra de Achada de São Filipe da Polícia Nacional, explicou que “aos poucos” a população tem vindo a “tomar consciência” das medidas restritivas impostas desde logo à circulação, para conter a pandemia.
“As pessoas já começaram a tomar consciência, está a melhorar um pouco. Também é uma experiência nova, mas no cômputo geral acho que estamos a melhorar dia-a-dia”, explicou.
Ainda assim, admitiu que após um período inicial de “sensibilização” das pessoas, a polícia teve de avançar com outras medidas, tendo feito oito detenções desde domingo, por desobediência ao estado de emergência.
“Só para dar um exemplo: ontem [quinta-feira], fizemos a detenção de sete indivíduos na zona da Achada de Santo António [centro da Praia] por desobediência e vão ser apresentados [a tribunal], porque não acataram as medidas restritivas”, explicou o comissário Hermínio da Veiga.
Cabo Verde cumpre hoje o sexto dia, de 20 previstos, de estado de emergência para conter a pandemia provocada pelo novo coronavírus, com a população obrigada ao dever geral de recolhimento, com limitações aos movimentos, empresas não essenciais fechadas e todas as ligações interilhas suspensas.
Restaurantes e padarias, em regime 'take-away', assim como supermercados e alguns mercados podem funcionar, embora com horários restritos e limitações ao número de pessoas no interior, justificando algum do pouco movimento dos últimos dias na Praia.
Ainda assim, o comissário Hermínio da Veiga acrescentou que a polícia, diariamente, está também a encerrar várias empresas que não cumprem os horários impostos pelo estado de emergência.
“Por ser uma situação nova, vimos inicialmente alguma resistência. Mas neste momento a situação está a melhorar bastante”, garantiu o comandante daquela esquadra, da cidade da Praia.
A atuação da Polícia Nacional faz-se também com postos de controlo na cidade da Praia e noutros pontos do país, para identificar se quem circula o tem mesmo de fazer, em patrulhas, que a Lusa presenciou, partilhadas com elementos da Guarda Municipal, da delegacia de saúde e militares das Forças Armadas.
Num desses postos, instalado hoje na Achada de São Filipe, centro da Praia, a Lusa encontrou o motorista profissional Silvério João, a circular com uma carrinha de mercadorias, prontamente mandado parar pela patrulha.
“As medidas são boas para nós. Alguns estão a cumprir e outros não, infelizmente”, confessou, à conversa com a Lusa enquanto a patrulha verifica a situação e a autorização para circular.
Numa tarde de sexta-feira invulgarmente deserta na Praia, Silvério João volta à estrada, para continuar a distribuição de produtos, e pouco depois é mandado parar José Martins, que aplaude o apertar do controlo: “É uma boa ideia. Acho que esta é a medida que devíamos tomar para travar a doença”, confessou o comerciante, também autorizado a circular.
Cabo Verde regista seis casos confirmados de covid-19 no arquipélago, nas ilhas da Boa Vista e de Santiago, além de um óbito. O último caso confirmado surgiu no passado sábado.
O atual estado de emergência em Cabo Verde vigora pelo menos até 17 de abril, estando o arquipélago fechado ainda a voos internacionais e à acostagem de navios, com exceção de cargueiros.
Na Praia, a Polícia Nacional está ainda a garantir a quarentena, em três hotéis, de 224 pessoas que regressaram ao país e que estão obrigadas a esse isolamento profilático até à próxima semana.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de um milhão de pessoas em todo o mundo, das quais morreram perto de 55 mil.
Dos casos de infeção, cerca de 200 mil são considerados curados.
Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde a declarar uma situação de pandemia.