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Covid-19: Comunidade científica lamenta atraso na disponibilização de dados e pede celeridade

LUSA
03-04-2020 13:31h

Investigadores e docentes que apelaram ao Governo para disponibilizar "com urgência" à comunidade científica portuguesa os dados mais detalhados sobre os doentes da covid-19 lamentam o atraso do processo e pedem a celeridade das entidades.

"Ainda aguardamos a disponibilização. Isto é aquilo que não pode acontecer numa guerra, os generais darem ordens e os soldados não cumprirem", afirmou hoje à Lusa Carlos Oliveira, um dos nove signatários do apelo que foi feito ao Governo para que disponibilizasse com "urgência" os dados dos doentes à comunidade científica.

O também conselheiro do European Innovation Council lamentou que a "ordem política" tenha sido dada, mas "não está a acontecer pelas entidades que o têm de fazer".

"Isso preocupa-nos porque há um enorme número de cientistas que podiam estar a fazer trabalho com dados mais exatos", disse.

Carlos Oliveira salientou que, mesmo antes da indicação dada, no debate quinzenal, por António Costa, para que os dados fossem disponibilizados, a comunidade científica já tinha indicação de "outros membros do Governo" de que a decisão estava tomada.

"Essa já era a informação que tínhamos também de outros membros do Governo, de que a decisão política teria sido tomada. Passa-se, no entanto, que não há qualquer tipo de disponibilização de dados, nem o próprio despacho foi assinado", avançou.

O antigo secretário de Estado salientou ainda que nenhum membro da comunidade científica está interessado "em fazer avaliações sobre a qualidade dos dados" recolhidos pelas autoridades de saúde, mas sim "ajudar".

"Ninguém está aqui interessado em fazer avaliações sobre a qualidade dos dados, apesar de começarmos a achar que quem deveria libertar esses dados não os liberta, porque não quer demonstrar fraqueza, mas ninguém está preocupado com isso, está preocupado em ajudar", referiu.

E acrescentou: "ninguém estava preparado para isto, é natural que os dados de organismos públicos não sejam os mais fiáveis, mas ninguém está aqui para avaliar isso".

No dia 16 de março, nove académicos, entre eles o presidente da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), Altamiro da Costa Pereira e o vice-presidente da Escola de Medicina da Universidade do Minho, Pedro Morgado, fizeram um apelo ao Governo para disponibilizar "com urgência" à comunidade científica portuguesa dados mais detalhados sobre os doentes da covid-19.

Nesse dia, em declarações à Lusa, Carlos Oliveira afirmou existirem "milhares de investigadores" no país disponíveis para ajudar no "combate" à covid-19, mas que tal só seria possível se tivessem acesso "à matéria prima": microdados pseudo-anonimizados.

"Isto é uma urgência porque efetivamente estes cientistas podem ajudar muito o país com base nos dados, normalmente, não se têm esta noção, mas os dados podem ser reveladores de muita informação", reforçava à data.

Portugal regista hoje 246 mortes associadas à covid-19, mais 37 o que na quinta-feira, e 9.886 infetados (mais 852), segundo o boletim epidemiológico divulgado pela Direção-Geral da Saúde (DGS).

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