Há um “imperativo ético” nesta missão de cuidar, sobretudo, quando falamos da população idosa, e quando é apenas isso que lhes resta. Uma missão que se desenrola na sombra e que não se detém diante do novo coronavírus. O setor social afirma-se esquecido, na luta contra a pandemia.
O Centro Social e Paroquial de São Jorge de Arroios parecia adivinhar o que estava para vir. Consciente de que o impacto das decisões que se impunham seria enorme, quer para os idosos quer para as famílias, antecipou-se ao governo e ao decreto que ordenava o encerramento dos centros de dia a partir do dia 16 de março. Pedro Cardoso, tinha uma prioridade: encontrar soluções para todos os utentes, junto da família ou não. O centro de noite foi ampliado para garantir a permanência e o acompanhamento de idosos isolados, acamados ou sem rede de suporte. O director do Centro Social e Paroquial de São Jorge de Arroios viu-se ainda a braços com uma equipa mais magra.
As famílias foram apanhadas de surpresa, algumas resistiram, mas a solidariedade falou mais alto. Houve quem tendo essa possibilidade, acolhesse em casa uma pessoa idosa, sem suporte familiar. Para Pedro Cardoso é impensável deixar as pessoas ao abandono quando mais precisam de ajuda, é “um imperativo ético”. Reconhece sentir medo. Medo pela população de que cuida, “extremamente frágil”. Medo pelas consequências que o isolamento e a solidão provocam.
Medo também pela equipa que, reduzida, se desdobra de manhã à noite para que nada falte, com todos os cuidados e segurança a que a pandemia obriga. “Uns verdadeiros heróis” que não desistem diante da escassez de material de proteção. Diz Pedro Cardoso, que o setor social está completamente esquecido. A luta contra a covid-19 não envolve apenas os profissionais de saúde e é preciso que a sociedade perceba e reconheça o papel destas equipas invisíveis.
A pandemia provocada pelo novo coronavírus também mudou a forma de trabalhar e as prioridades dos assistentes sociais. São desafios que lhes tiram o sono. O tal medo, de não conseguirem garantir os que os seus idosos estão acompanhados e em segurança.